Os cientistas estão encontrando um número crescente de maneiras que fazem os placebos parecerem trazer benefícios reais para a saúde de pacientes. A pesquisa pode um dia levar ao aumento do uso de placebos – substâncias que não têm aparentes efeitos farmacêuticos – para tratar doenças comuns.
Estudos têm demonstrado que a administração de placebos reduz a dor e os sintomas em pacientes com síndrome do intestino irritável e enxaqueca, mesmo quando os pacientes sabem que estão tomando um placebo. Explora-se agora se é possível a obtenção do mesmo resultado em dor crônica nas costas e fadiga relacionada ao câncer.
Investigadores da doença de Parkinson descobriram que a interrupção da medicação ‘verdadeira’ dos doentes e sua substituição por um placebo causa o contínuo alívio dos sintomas, provavelmente, porque o corpo está pré-condicionado para desencadear a mesma resposta.
Numerosos estudos têm documentado efeitos neurobiológicos que os placebos têm no cérebro, resultando na liberação de neuromoduladores que podem ajudar a reduzir a dor e os sintomas da doença. De acordo com um estudo feito em animal publicado on-line em julho na revista Nature Medicine, evidências sugerem que os medicamentos ‘inócuos’ também podem afetar o corpo, em particular o sistema imunológico.
“Não se trata de efeito na mente. O efeito placebo tem uma biologia”, afirma Ted J. Kaptchuk, diretor do Programa em Estudos Placebo e Encontros Terapêuticos, no Beth Israel Deaconess Medical Center, em Boston, e professor da Harvard Medical School. “Os caminhos usados pelo placebo que conhecemos são os caminhos que muitos medicamentos significativos usam.”
Os placebos são mais comumente usados em ensaios clínicos de ativos ou medicamentos, servindo como ponto comparativo contra um novo tratamento que está sendo desenvolvido ou testado. Um número surpreendentemente grande de médicos – estudos e pesquisas sugerem que, pelo menos, metade deles – prescrevem placebos para seus pacientes. Isto ocorre geralmente quando não há um remédio adequado no mercado para os sintomas de um paciente ou os sintomas não parecem ser uma ameaça séria, tal como a fadiga ou dores ligeiras.
Os placebos que a maioria dos médicos prescrevem são drogas ativas, mas em doses baixas que não há nenhum benefício terapêutico aparente, conta Walter Brown, um professor clínico de psiquiatria da Universidade Brown, que escreveu “O Efeito Placebo na Prática Clínica”, um livro publicado em 2013. Os médicos também prescrevem vitaminas, antibióticos, ou analgésicos que não requerem prescrição médica como a aspirina. Raramente prescreveriam uma pílula de açúcar.
Desde 2006, as diretrizes da Associação Médica Americana dizem aos médicos que é antiético dar aos pacientes um placebo sem lhes revelar. Mas, acredita-se que poucos médicos realmente fazem isso, dizem os especialistas.
Dezenas de estudos têm mostrado que o poder dos placebos ultrapassa a imaginação dos pacientes, relata o professor Kaptchuk, do Beth Israel Deaconess. Isto foi demonstrado pela primeira vez em 1979, quando os pacientes em uma experiência dental (com dor) receberam um placebo que pensavam ser um analgésico, diz ele. Cerca de um terço deles relatou menos dor. Drogas subsequentes para bloquear a ação de analgésicos removeram o efeito do placebo.
O estudo mostrou que os placebos fazem o cérebro liberar opioides endógenos, ou endorfinas, que reduzem a dor. Pesquisas posteriores descobriram que outras substâncias também são ativadas por placebos, incluindo os endocanabinoides e a dopamina, parte do sistema de recompensa do cérebro.
Mesmo quando é dito aos pacientes que a medicação que estão recebendo é um placebo, a dor e sintomas ainda assim são aliviados. O prof. Kaptchuk diz que encontrou isto em um estudo controlado e randomizado de 80 pacientes com síndrome do intestino irritável, publicado na revista PLoS One em 2010, e em um estudo de 2014, publicado na revista Science Translational Medicine, envolvendo 66 pacientes com enxaqueca. Houve resultado semelhante entre pacientes com dor lombar crônica em um estudo que o prof. Kaptchuk planeja publicar. As diferenças genéticas podem deixar as pessoas mais propensas às respostas de um placebo.
O QUE SABEMOS
Os placebos causam efeitos neurobiológicos no cérebro. Um novo estudo em animais sugere que também podem afetar o corpo, especialmente o sistema imunológico.
Quando substitui-se um medicamento real por um placebo em pacientes, a redução de seus sintomas não é interrompida, talvez porque o corpo está pré-condicionado para continuar com a mesma resposta.
Mesmo quando os pacientes sabem que estão recebendo placebos, estes reduzem a dor da enxaqueca e sintomas da síndrome do intestino irritável. Os pesquisadores estão testando se podem obter o mesmo resultado em dor crônica nas costas.
Diferenças genéticas parecem tornar algumas pessoas mais propensas a responder a um placebo.
Mais da metade dos médicos já prescrevem placebos, especialmente quando não existe um remédio adequado disponível no comércio.
Os placebos são geralmente pílulas de vitamina, analgésicos sem necessidade de prescrição médica, ou doses bem baixas de medicamentos existentes.
“Estudos de imagens do cérebro mostraram que, durante o tratamento com placebo, as pessoas têm a área do sistema de recompensa ativada” (no cérebro), diz Asya Rolls, professora assistente no Technion, Instituto de Tecnologia de Israel, e pesquisadora sênior do estudo publicado na revista Nature Medicine. “Queríamos ver se a ativação do sistema de recompensa poderia fazer algo sobre a fisiologia e, então, nos concentramos sobre o sistema imunológico.”
Para fazer isso, os pesquisadores infectaram camundongos com a bactéria E. coli, e utilizaram a tecnologia para ativar os neurônios no circuito de recompensa do cérebro. Eles descobriram que o sistema imunológico era mais responsivo – matando duas vezes mais bactérias do que em animais cujo sistema de recompensa não foi ativado. Os camundongos também produziram mais anticorpos para a bactéria: um mês mais tarde, quando injetados com E. coli novamente, apresentaram uma resposta imune mais forte.
Embora o sistema de recompensa do cérebro humano tenha muito em comum com o dos camundongos, não se sabe se as pessoas apresentam a mesma resposta imunitária. A ativação do sistema de recompensa do cérebro, provavelmente, também afeta outros aspectos da fisiologia do corpo.
Luana Colloca, professora associada da Universidade de Maryland, Baltimore, estudou o efeito placebo em pacientes com Parkinson. Ela diz que depois de os pacientes utilizarem várias vezes a droga apomorfina, um tratamento comum que ativa a dopamina, esta pode ser substituída por um placebo.
“Quando usamos um placebo, após um tratamento ativo, o placebo imita a mesma ação do tratamento através de um mecanismo que chamamos condicionamento farmacológico”, diz a Dra. Colloca, que está atualmente pesquisando sobre o efeito do placebo na dor aguda e crônica. “A meta atual é reduzir os opioides para otimizar o manejo da dor”, afirma ela.
Em pesquisa publicada anteriormente, a Dra. Colloca e seus colegas detectaram diferenças nos neurônios nos cérebros dos pacientes de Parkinson que receberam placebo. Os pacientes relataram menos tremores e menos rigidez muscular, mesmo quando receberam um tratamento com placebo. Outros grupos de pesquisa estão explorando fenômenos semelhantes em pacientes com distúrbios de asma e do sono.
Traduzido por Essentia Pharma
Referência:http://www.wsj.com/articles/why-placebos-really-work-the-latest-science-1468863413
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