Alterações na expressão gênica podem afetar funcionamento adequado do sistema imunológico
Uma nova pesquisa publicada na Proceedings of National Academy of Sciences mostrou que alterações na expressão gênica nas células do sistema imunológico podem ser
causadas pelo estresse crônico, antes mesmo que elas alcancem a corrente sanguínea.
John Sheridan, professor de biologia na Faculdade de Odontologia, diretor associado do Behavioral Medicine Research (IBMR) e coautor do estudo, e sua equipe estudam há uma década como o estresse crônico atua no sistema imunológico, especificamente aquele associado ao ambiente social – e quais as mudanças provocadas no organismo.No estudo que apresentamos, o estresse crônico alterou a ativação ou expressão de genes em células do sistema imunológico, antes de serem liberados da medula óssea. Ou seja, os genes que causam a inflamação foram expressos em níveis mais elevados que o normal.
No experimento, ratos foram “socializados” para que criassem uma hierarquia dentro do grupo. Após um tempo, um rato macho agressivo foi colocado dentro desse grupo, o que gerou situações de luta entre os ratos residentes com o “intruso” – caracterizando um conflito social. Essa inclusão era feita a cada 2 horas. Os pesquisadores compararam as células circulantes dos ratinhos “conflitados” com outros ratos, e notaram que o número de células imune no sangue e no baço era quatro vezes maior no primeiro grupo.
Uma análise do genoma dessas células do baço mostrou que quase 3000 genes foram expressos em níveis diferentes, tanto superior quanto inferior, e muitas células adquiriram o poder de se tornarem inflamatórias mais rapidamente.
Ou seja, as células são estimuladas a combater uma infecção ou trauma, sem que na verdade essas situações existam, levando ao extravasamento de processos inflamatórios intimamente relacionados a problemas de saúde. Obviamente essas alterações não acontecerão em momentos de estresse passageiro, por exemplo, em situações tensas no trânsito que acontecem de vez em quando. O estresse crônico acontece repetidamente, conduzindo o indivíduo a um estado de irritação permanente, no qual não consegue encontrar momentos de relaxamento.
Embora faça parte do funcionamento do Sistema Nervoso Central “acionar” o Sistema Nervoso Simpático em situações de defesa, luta ou fuga, e estimular a produção de novas células sanguíneas, a ativação prolongada faz surtir efeitos negativos na saúde.
Estudos clínicos comprovam essa relação
Steven Cole, professor de medicina da UCLA, é co-autor correspondente do estudo e faz análises especializadas do genoma humano para determinar como a percepção social das pessoas afeta sua biologia. Ele e seus colegas analisaram amostras de sangue tanto dos animais estudados por Sheridan, quanto de jovens e adultos saudáveis.
Quando foi feita uma mesma análise das células imune e os genes em humanos, identificou-se diferentes níveis de expressão dos genes entre os 387 adultos de baixa ou alta classe social e, como nos animais, os genes foram regulados para atuar como pró-inflamatórios. Os pesquisadores também observaram que quase um terço desses genes, foram os mesmos genes expressos em animais colocados em situações de estresse repetidas – uma semelhança muito maior do que poderia ocorrer por acaso. Essa semelhança, inclusive, é vista em células imunes pró-inflamatórias de pesquisas que acompanham pais de crianças com câncer.
“O que vemos neste estudo é uma relação entre os resultados em humanos e em animais, que mostram respostas genômicas semelhantes”, diz Cole. “A informação molecular a partir de pesquisas com animais integra-se bem com os achados em humanos mostrando um significativo aumento da regulação de genes pró-inflamatórios como conseqüência do estresse”. Uma das conclusões desse estudo aponta para aquele indivíduo que é constantemente estressado em seu trabalho, por exemplo, e vive com infecções, resfriados, gripe, etc. “As células compartilham praticamente as mesmas características em termos de resposta ao estresse”, comenta Sheridan.
Sob condições normais, a medula óssea, tanto em humanos como em animais, fabrica e libera milhões de glóbulos vermelhos e brancos todos os dias. Os pesquisadores já sabiam que o estresse distorce esse processo, fazendo com que as células brancas produzidas na medula óssea e pertencentes ao sistema imunológico, sejam mais “inflamatórias” que o normal, prontas para defender o organismo de uma ameaça externa.
Uma resposta imunológica contra um agente estranho ou patogênico requer uma inflamação, gerada pelas próprias células imunes. Mas quando a inflamação é excessiva e não tem como finalidade a proteção ou cura, o resultado pode ser um aumento do risco para as doenças cardiovasculares, diabetes e obesidade e outros distúrbios. Os resultados sugerem que ativos ou nutrientes que atuam sobre o sistema nervoso central no tratamento de distúrbios emocionais, podem ser suplementados com outros que suportem o sistema imunológico.
Referências
Powell, N. D., Sloan, E. K., Bailey, M. T., Arevalo, J. M. G., Miller, G. E., Chen, E., Kobor, M. S., Reader, B. F., Sheridan, J. F., Cole, S. W. Social stress up-regulates inflammatory gene expression in the leukocyte transcriptome via-adrenergic induction of myelopoiesis. Proceedings of the National Academy of Sciences, 2013; 110 (41): 16574.
Ohio State University (2013, November 5). Effects of chronic stress can be traced to your genes. Science Daily. Retrieved November 6, 2013.
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