Conhecer o mundo ao seu redor, brincar e aprender são eventos que estão presentes na rotina das crianças diariamente e são, também, parte do desenvolvimento cognitivo infantil que acontece desde o início da vida.
Nutrir o corpo de forma adequada é um passo fundamental para que os pequenos possam aproveitar essa fase de crescimento e evolução com saúde e, é claro, muita energia!
Siga no texto e entenda como acontece o desenvolvimento cognitivo infantil e conheça os principais nutrientes que são amigos da aprendizagem, do conhecimento e de outras funções cognitivas essenciais para as crianças.
O desenvolvimento cognitivo infantil é o processo referente às mudanças e evoluções da cognição que ocorrem ao longo do crescimento, ou seja, desde a infância até a adolescência e o início da fase adulta.
Esse desenvolvimento está relacionado com a aquisição do conhecimento através da memória, da atenção e da percepção do mundo, mecanismos que vão progredindo gradualmente com o passar dos anos e contribuindo para a construção da inteligência.
Para entender como tudo isso funciona, é necessário citar uma das personalidades mais conhecidas acerca do conceito do desenvolvimento cognitivo, o biólogo e psicólogo Jean Piaget.
Para Piaget, o desenvolvimento cognitivo tem 4 estágios distintos, com características específicas a respeito da evolução da inteligência durante a infância. Entenda quais são:
1 – Sensório-motor: acontece do nascimento aos 2 anos de idade e é muito importante para o desenvolvimento cognitivo. Nessa fase, acontecem as primeiras formas de pensamento e expressão da criança, que percebe gradualmente seus reflexos e movimentos, cria consciência do seu “eu” e se relaciona com o mundo de forma mais sensitiva e por meio da manipulação de objetos.
2 – Pré-operatório: se desenvolve dos 2 aos 7 anos de idade e é o momento em que as crianças já conseguem utilizar palavras e símbolos para representar o que querem. Nessa fase, o pensamento não se organiza em categorias lógicas, mas sim em elementos particulares e individuais para cada criança. O egocentrismo intelectual é a principal forma de pensamento, e seu raciocínio se dá por analogia e imitação, pois ainda não há um verdadeiro raciocínio lógico. Gradualmente, ocorre uma evolução que leva a criança a uma maior generalidade, caracterizando um período de pensamento intuitivo.
3 – Operatório concreto: ocorre dos 7 aos 12 anos de idade e uma característica importante é que o pensamento intuitivo vai dando lugar a um raciocínio mais lógico e concreto. Aqui, a criança já consegue relacionar a realidade com conceitos aprendidos e entende com mais facilidade os ensinamentos que são passados, como por exemplo a noção de comprimento, distância e quantidades, além de apresentar uma troca muito mais rica, estável e sólida com a realidade.
4 – Operatório formal: se dá a partir dos 12 anos de idade e é quando a capacidade cognitiva vai se desenvolvendo até a fase adulta. O adolescente, nesse momento, utiliza com facilidade o pensamento lógico e também o abstrato, tendo um raciocínio hipotético-dedutivo. Dessa forma, agora ele consegue chegar a conclusões a partir de hipóteses, sem a necessidade de observações e manipulações reais.
No entanto, para que as crianças desenvolvam as características citadas em cada estágio do desenvolvimento cognitivo infantil é necessário estímulo. E isso pode ser feito por meio de atividades lúdicas adequadas para cada faixa etária.
Porém, não somente essas atividades são importantes nesse momento, a nutrição do organismo da criança também tem um papel essencial para essa evolução. E é isso que você vai entender agora.
O desenvolvimento cognitivo infantil acontece juntamente com o crescimento e a evolução do cérebro. Assim como o nosso organismo em geral, a região cerebral também necessita de nutrientes para se desenvolver de forma eficiente e conseguir manter todas as suas funções, e é aí que entra a alimentação.
Alguns estudos indicam essa relação da alimentação saudável e nutritiva com as funções cognitivas dos pequenos.
Por exemplo, em uma pesquisa realizada com crianças de 6 a 8 anos foi identificado que o menor consumo de frutas, vegetais e fibras e o maior consumo de alimentos industrializados estavam associados a uma cognição mais fraca, especialmente em meninos.
Em outro estudo de revisão, foi destacado que múltiplos micronutrientes, que são as vitaminas e os minerais, apresentam efeitos benéficos para o crescimento e desenvolvimento adequados do cérebro e da função cognitiva, bem como sua deficiência pode levar a atrasos de desenvolvimento e distúrbios neurocognitivos.
Além de toda a importância que cada vitamina e mineral pode apresentar para o desenvolvimento cognitivo infantil, estar bem alimentado é, por si só, um fator determinante para o aprendizado.
Principalmente no ambiente escolar, é preciso que o aluno esteja atento e consiga aprender as informações abordadas ao longo das aulas. Para isso, os alimentos ingeridos servem como um combustível fazendo com que o corpo e principalmente o cérebro tenham a energia necessária durante esse período.
Não é de hoje que essa relação é investigada na literatura, sendo um exemplo disso a revisão que relacionou o consumo de café da manhã como um fator positivo para a cognição em crianças.
Nesse estudo, os alunos que consumiam essa refeição apresentaram melhores resultados no rendimento escolar, principalmente em relação à memória, do que aqueles que optavam por não consumir.
Assim, além de pensar separadamente nos nutrientes que podem contribuir com a saúde cerebral dos pequenos, é imprescindível ter em mente que a nutrição adequada é muito importante para o processo de aprendizagem, seja dentro ou fora do ambiente escolar.
Alguns nutrientes apresentam propriedades que podem contribuir com o desenvolvimento cognitivo. De acordo com um estudo recente publicado na Nutrition Reviews, além do conteúdo energético (calorias) e das proteínas, o ômega-3, o zinco, a vitamina B12 e o ferro podem ser considerados nutrientes essenciais para o crescimento e desenvolvimento do cérebro desde o início da vida.
É importante destacar que esses nutrientes são passados para a criança desde o momento da gestação, e por isso muitos estudos evidenciam a importância da nutrição adequada durante a gravidez, bem como a relevância do aleitamento materno, como uma forma de promover benefícios para a cognição da criança após o nascimento e durante a primeira infância.
Entre os nutrientes com um papel importante no desenvolvimento cognitivo infantil, podemos citar:
O ômega-3 é um ácido graxo essencial composto por EPA (ácido eicosapentaenoico) e DHA (ácido docosahexaenoico) extraído do óleo de peixe que tem importante influência na saúde cerebral.
Esse ácido graxo poli-insaturado está diretamente relacionado à formação de novos neurônios, à produção de alguns neurotransmissores e de algumas substâncias como o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), que age na homeostase cerebral.
O DHA, em especial, é destacado em estudos por ter uma potente ação na formação e no desenvolvimento do cérebro. É mencionado, inclusive, como um importante nutriente para o processo de aprendizagem.
Na pesquisa, é destacado que sua ação acontece desde a gestação, sendo a suplementação de ômega-3 durante a gravidez encorajada pelos autores e por outros pesquisadores, a fim de beneficiar o desenvolvimento adequado do cérebro da criança e, consequentemente, favorecer a cognição.
O zinco é um mineral que pode estar presente tanto em alimentos de origem animal quanto vegetal. Esse nutriente participa de diversas funções no organismo e é apontado como essencial para a estrutura e função cerebral.
Algumas explicações para isso podem ser as altas concentrações de zinco que são encontradas dentro dos neurônios, além da sua ação na liberação de alguns neurotransmissores, o que indica que ele é um elemento chave da excitabilidade neuronal.
Uma pesquisa verificou que, em modelos animais, a baixa ingestão desse mineral durante a gestação pode comprometer o desenvolvimento cognitivo dos filhotes. Já os estudos em humanos observaram que, apesar de a deficiência de zinco ser de difícil diagnóstico, a sua suplementação parece melhorar o desenvolvimento motor e as funções neuropsicológicas em alguns casos, especialmente em bebês com baixo peso ao nascer.
Também chamada de cobalamina, a vitamina B12 pode ser encontrada em alimentos de origem animal e, dentre tantas funções que pode desenvolver no organismo, está relacionada ao funcionamento do sistema nervoso, desenvolvimento do cérebro e função cognitiva.
Uma revisão da literatura que verificou a ação da vitamina B12 em crianças, identificou que o déficit desse nutriente durante a gestação e a primeira infância pode estar associado ao comprometimento do desenvolvimento cognitivo infantil.
Ainda, filhos de mulheres que tinham um nível adequado de vitamina B12 durante a gestação apresentaram melhores resultados cognitivos até os 2 anos de idade.
Além disso, os autores pontuam que maiores níveis de B12 sérica foram associados a melhores desempenhos cognitivo e escolar, assim como melhores índices de desenvolvimento em diversos estudos realizados com crianças em idade escolar.
O ferro é um mineral essencial e precisa ser consumido por meio da alimentação ou da suplementação. Suas principais funções são a produção da hemoglobina, que compõe as células vermelhas no sangue, e o transporte de oxigênio para todo o sistema celular.
Por agir, basicamente, em todo o organismo, esse mineral apresenta importante função também para a saúde cerebral.
Uma pesquisa brasileira trouxe dados que identificaram a influência da deficiência de ferro na cognição: estudos demonstraram que crianças entre 6 e 24 meses de idade que apresentavam quadro de anemia ferropriva tinham maiores riscos de comprometimento do desenvolvimento cognitivo infantil, sendo imprescindível o consumo desse mineral desde o início da infância.
Isso se deve ao fato de o ferro estar envolvido na estrutura dos neurônios e na constituição de algumas enzimas responsáveis pela síntese e degradação de neurotransmissores cerebrais, como a dopamina, a adrenalina e a serotonina.
A deficiência de ferro é a deficiência de micronutrientes mais comum no mundo, podendo atingir até metade da população em alguns locais. A Sociedade Brasileira de Pediatria, inclusive, orienta a suplementação desse mineral dos 3 aos 24 meses de idade como medida de prevenção da anemia ferropriva, condição causada pela deficiência de ferro que pode levar ao comprometimento do desenvolvimento cerebral e disfunções imunológicas.
Seja por meio dos alimentos ou dos suplementos, é possível perceber que cada um desses nutrientes citados impactam na saúde, crescimento e desenvolvimento das crianças e, por isso, precisam fazer parte da rotina.
No entanto, nos momentos em que a suplementação se faz necessária, a administração desses medicamentos pode ser um pouco desafiadora para os pais, já que muitas vezes é comum as crianças não aceitarem a ingestão.
Nesse momento, a principal orientação é buscar por um produto que, além de fornecer os nutrientes que as crianças precisam, seja também agradável ao paladar delas.
Para te inspirar nessa escolha, saiba mais sobre as formas farmacêuticas infantis e conheça opções saborosas, divertidas e saudáveis para manipular os suplementos dos pequenos.
Referências:
BENTON, David et al. Symposium on nutrition and cognition: towards research and application for different life stages. Asia Pacific Journal Of Clinical Nutrition, 2012.
BHATNAGAR, Shinjini; TANEJA, Sunita. Zinc and cognitive development. British Journal of Nutrition, 2001.
BRASIL. Alberto Munari. Ministério da Educação. Jean Piaget. 2010. 156 p.
BRASIL. Mauro Fisberg. Sociedade Brasileira de Pediatria. Consenso sobre anemia ferropriva: mais que uma doença, uma urgência médica!. 2018. 13 p.
CAVICCHIA, Durlei de Carvalho. O desenvolvimento da criança nos primeiros anos de vida. Psicologia do Desenvolvimento, 2010.
HAAPALA, Eero A. et al. Associations of diet quality with cognition in children – the Physical Activity and Nutrition in Children Study. British Journal Of Nutrition, 2015.
MATTEI, Davide; PIETROBELLI, Angelo. Micronutrients and Brain Development. Current Nutrition Reports, 2019.
PEDRAZA, Dixis Figueroa; QUEIROZ, Daiane de. Micronutrientes no crescimento e desenvolvimento infantil. Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano, 2011.
RAMPERSAUD, Gail C. et al. Breakfast Habits, Nutritional Status, Body Weight, and Academic Performance in Children and Adolescents. Journal Of The American Dietetic Association, 2005.
SANHUEZA, Julio; NIETO, Susana; VALENZUELA, Alfonso. Ácido docosahexaenoico (DHA), desarrollo cerebral, memoria y aprendizaje: la importancia de la suplementación perinatal. Revista Chilena de Nutrición, 2004.
VENKATRAMANAN, Sudha et al. Vitamin B-12 and Cognition in Children. Advances in Nutrition, 2016.
VILLARES, José Manuel Moreno et al. Role of breakfast and its quality in the health of children and adolescents in Spain. Nutrición Hospitalaria, 2021.
Newsletter + Guia sobre resiliência
Assine a newsletter e receba o e-book “Guia sobre resiliência: a relação com o estresse e dicas práticas”. Exclusivo para assinantes.
Quero assinar