O poder do cérebro é superestimado. Para manter o corpo funcionando, você não precisa de um cérebro operante, mas você precisa de energia. Então, eis o intestino.
Talvez não lhe demos muita atenção, porque, literalmente, acontece inconscientemente, mas o processo de extrair energia dos alimentos é intrincado. Trata-se de centenas de milhões de neurônios que não estão em seu cérebro. Esses neurônios são encontrados nas camadas exteriores de seu intestino, e o sistema nervoso entérico que formam é tão poderoso que pode trabalhar sem qualquer participação direta do cérebro.
As ações que esse sistema nervoso executa incluem a garantia que o alimento passe em velocidade regulada, secretando os sucos apropriados para facilitar a digestão, e gerindo a mucosa do revestimento intestinal – funções cruciais. E, na última década, aprendemos o quanto de impacto que o intestino pode ter sobre o restante do corpo e da mente.
Comando e controle
Por exemplo, os processos que o sistema nervoso entérico realiza também lhe dá algum controle sobre os trilhões de micróbios que vivem em seu intestino. Muitos deles são essenciais para a nossa saúde, porque nos ajudam a extrair nutrientes que sem eles não seria possível, e alguns até mesmo afastam infecções.
Uma forma que os neurônios entéricos controlam esses micróbios é alterando a espessura da mucosa intestinal. Justin e Erica Sonnenburg, pesquisadores da Universidade de Stanford e autores do The Good Gut, dizem que esse processo é semelhante a como “criaturas adaptadas a uma floresta tropical úmida sofreriam no deserto”. Dependendo do tipo de micróbios que são mais adequados para um trabalho específico, o revestimento da mucosa pode determinar a sua população no intestino.
E há mais. As suspeitas da correlação intestino-cérebro tornaram-se difíceis de ignorar: Um estudo de 2011 dividiu um grupo de camundongos com base em sua personalidade: tímidos versus aventureiros. Em seguida, os investigadores tomaram um outro conjunto de camundongos livres de micróbios que dividiram em 2 grupos. Num grupo colocaram o microbioma dos animais tímidos e no outro, o microbioma dos animais aventureiros. Os camundongos livres de micróbios assumiram os traços de personalidade do proprietário do microbioma transferido.
Em um estudo de 2013, utilizando um outro modelo de camundongos, os pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Califórnia descobriram que os que possuíam características autistas – tais como estresse, natureza antissocial e problemas gastrointestinais tinham níveis muito mais baixos de Bacteroides fragilis em comparação com os camundongos normais. Pior ainda, quando injetada uma substância química (4-ethylphenylsulphate) – encontrada nas vísceras de camundongos autistas, em camundongos normais, estes últimos desenvolviam sintomas autistas também.
Já um estudo de 2014, pesquisadores da University College Cork descobriram que os camundongos nascidos através de cesariana tinham um risco maior de sofrer de depressão do que os nascidos de parto normal. Acontece que, os animais de cesariana possuíam uma diversidade menor de espécies de micróbios no intestino, provavelmente porque não puderam absorvê-los através da vagina da mãe.
Embora camundongos são mais fáceis de manipular, tais ligações não se limitam unicamente a eles. Em um estudo de 2013, pesquisadores da Universidade Estadual do Arizona descobriram que seres humanos com problemas comportamentais, como o autismo, apresentaram diferenças significativas no microbioma intestinal, em comparação com seres humanos mais saudáveis. Até agora, no entanto, essas conexões intestino-cérebro têm sido meras correlações, mas com a ajuda de vermes, um novo estudo mudou isto.
A ajuda de parasitas intestinais
Um dos elementos de conexão entre o cérebro e o intestino tem sido o sistema imune. Doenças neurológicas, tais como a doença de Alzheimer e esclerose múltipla, estão ligadas a alterações no sistema imune, e doenças autoimunes do intestino, como a doença de Crohn, estão ligadas a doenças mentais.
Agora, um novo estudo publicado em Brain, Behavior and Immunity fez uso desta conexão para mostrar como o intestino pode ter um impacto sobre o cérebro. Para acionar essa conexão, Staci Bilbo, neurocientista da Duke University, e colegas usaram vermes e mostraram como essas criaturas podem parar a perda de memória.
Ela dividiu um grupo de 30 ratos em dois: infectados com o verme Hymenolepis diminuta e não infectados. Em seguida, em ambos os grupos, ela induziu uma segunda infecção destinada a aumentar a produção de um produto químico de sinalização do cérebro chamado de IL-1β. O produto químico é geralmente benéfico, mas em excesso pode causar danos e tem sido associado com doença cerebral.
Para testar suas memórias, os ratos foram colocados em um compartimento e deixados para se familiarizarem com o local. Então Bilbo deu-lhes um choque para que eles associassem o compartimento com más recordações. No dia seguinte, ela reintroduziu ambos os grupos no local e descobriu que o grupo com vermes era duas vezes mais propenso a recuar (apresentando rejeição ao recinto) em comparação com o grupo que não continha vermes. A infecção por tênia parece ter protegido os ratinhos da perda de memória, em comparação com os animais livres de infecção.
Bom intestino, bom cérebro
O motivo foi que os ratos com infecção por parasitas já tinham tido uma resposta imune, que manteve os níveis de IL-1β baixos quando uma segunda infecção ocorreu. Níveis mais baixos de IL-1β no cérebro assegurou a formação e retenção de memórias, mais do que em ratos sem os vermes. Aqueles que não tiveram a infecção produziram maiores níveis de IL-1β.
Este tipo de efeito é chamado de “esgotamento do bioma”, onde a falta de exposição a infecções faz com que o sistema imune reaja de forma excessiva a infecções no futuro. Assim, a exposição de alguns micróbios pode ajudar a evitar tal resposta, e, no caso dos ratos, ajudar a prevenir a perda de memória. Não se está recomendando a contração de infecção parasitária para a proteção contra a perda de memória. O caminho tortuoso tomado foi para chegar a uma conclusão definitiva de que as mudanças no intestino podem provocar mudanças no cérebro.
A evidência do estudo de Bilbo é uma das primeiras a estabelecer uma relação causal. E, com certeza, mais está por vir. Em 2014, o US National Institutes for Mental Health gastou cerca de US $ 1 milhão em pesquisa olhando para a conexão microbioma-cérebro. E, agora está bem claro que os “sentimentos viscerais” já não são apenas uma metáfora.
Traduzido por Essentia Pharma
Referência:http://qz.com/474523/is-your-gut-really-the-second-brain/
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