O ácido fólico tem sido há muito apontado como um complemento importante para as mulheres em idade fértil por sua capacidade de prevenir defeitos no cérebro e medula espinhal em desenvolvimento do bebê. Na verdade, o ácido fólico é considerado tão importante que é adicionado como um suplemento em pães, massas, arroz e cereais para ajudar a garantir a exposição de mulheres a quantidades suficientes deste nutriente, mesmo antes de saber que está grávida.
Outro suplemento pré-natal possivelmente útil na prevenção contra o autismo, de acordo com estudo publicado em Cell Reports, é a carnitina, já disponível no mercado.
A carnitina, que o corpo pode fabricar ou extrair a partir de fontes dietéticas, é necessária no transporte de ácidos graxos para as mitocôndrias – compartimento no interior da célula que converte estas gorduras em energia. Estudos anteriores demonstraram que mutações hereditárias no gene (chamado TMLHE), necessárias para a biossíntese de carnitina, estão fortemente associadas com o risco de desenvolvimento de desordens do espectro do autismo, mas a base para esta associação tem sido pouco clara… Até agora.
As últimas descobertas mostram que os defeitos genéticos na capacidade do corpo para a fabricação de carnitina podem estar associados com um risco maior de autismo porque sua deficiência interfere com os processos normais em que células estaminais neurais promovem e organizam o desenvolvimento embrionário e do cérebro fetal.
O principal autor do estudo, Zhigang Xie, Ph.D., cientista assistente da pesquisa, em Texas A&M Health Science Center College of Medicine, refinou uma nova tecnologia que lhe permite marcar, acompanhar e analisar as células-tronco neurais individuais em seu ambiente nativo em um verdadeiro cérebro em desenvolvimento. “É muito difícil estudar as células-tronco neurais em seu ambiente natural complexo”, disse Xie. “Mas agora temos uma tecnologia que faz com que tais estudos sejam possíveis.”
“Até agora, esta tecnologia não havia sido usada dessa maneira”, acrescentou Vytas A. Bankaitis, Ph.D, colaborador de Xie. “Nossa aplicação dela é poderosa porque nos permite identificar os defeitos de específicas células-tronco neurais, que são invisíveis nos sistemas de cultura de células normalmente usados por cientistas. No que diz respeito aos transtornos do espectro do autismo, deve-se considerar todo o ambiente celular, ou nicho.”
Seu trabalho, que foi financiado pelos Institutos Nacionais de Saúde e pela fundação Robert A. Welch, EUA, é importante porque 1% dos americanos apresenta autismo, e o custo anual de gestão da condição, somente nos Estados Unidos, é estimado em pelo menos US$ 236 bilhões. Os pesquisadores descobriram que as células-tronco neurais incapazes de produzir carnitina não se comportam corretamente e são inadequadamente exauridas do cérebro em desenvolvimento, mas quando recebem carnitina a partir de uma fonte externa, os problemas se modificam.
Sem entrar a fundo na explicação técnica, o gene TMLHE associado ao autismo codifica uma enzima que o corpo precisa para a fabricação de carnitina. As mutações que criam o risco de autismo desativam este gene e, na ausência da sua própria capacidade para produzir carnitina e sem suplementação externa adequada, as células estaminais neurais tornam-se menos eficientes à auto-renovação. Isto é, quando se dividem, as células-tronco neurais produzem duas células “filhas”, uma das quais que deve permanecer como célula-tronco neural e a outra que deve diferenciar-se. Células-tronco neurais confrontadas com demasiada deficiência de carnitina frequentemente se dividem para produzir duas células diferenciadas, falhando, assim, no reabastecimento de células-tronco neurais do cérebro em desenvolvimento.
“Erros inatos na produção de carnitina causam problemas significativos em um tipo de célula possivelmente contribuinte para o risco de autismo”, afirmou Bankaitis. Como o gene do risco de autismo está localizado no cromossoma X e os homens têm apenas um cromossoma X (mulheres têm dois), eles estão em maior risco.
Algumas mulheres grávidas podem absorver carnitina de maneira suficiente através de sua dieta tornando a função da enzima normal menos importante no contexto do risco de autismo para seus bebês. Altos níveis de carnitina podem ser encontrados em carne vermelha e no leite integral. As mulheres que não ingerem suficiente carnitina, no entanto, podem estar colocando seu feto em risco.
Porque o TMLHE é um gene de risco reconhecido para o autismo e a sua localização no cromossoma é conhecida, um primeiro passo possível para a prevenção é testar potenciais mães para as mutações TMLHE antes da gravidez. Se uma futura mãe é portadora do gene modificado, a suplementação de sua dieta com carnitina antes e durante a gravidez pode ajudar a garantir que uma quantidade suficiente do nutriente esteja disponível para o desenvolvimento do embrião e do feto, ajudando a compensar o defeito genético.
“Em retrospecto, essa abordagem preventiva parece óbvia”, disse Bankaitis. “Mas, deficiências metabólicas são cenários complicados de interpretar, e acreditamos que essas complexidades se revelarão como um caminho bastante simples para a prevenção.”
É importante notar que esta estratégia de prevenção especial não se aplicará a todos os casos de autismo. “Mesmo que essa estratégia funcione, não será uma panaceia para reduzir todos os riscos de autismo”, disse Bankaitis. “Enquanto isso pode funcionar em casos que envolvam a deficiência de carnitina, outras vias também estão em jogo, desde que até 1000 genes podem vir a ser encontrados para se relacionar com o risco de autismo. Ainda assim, o impacto potencial dessa pequena estratégia preventiva poder ser significativo desde que alelos TMLHE mutantes são surpreendentemente comuns na população humana.”
“Aqui temos indicações, pelo menos para alguns tipos de risco de autismo, que um método de prevenção através da suplementação de carnitina pode ser eficaz”, afirmou Xie. “Para alguns indivíduos, esse suplemento nutricional simples pode realmente ajudar a reduzir o risco de desenvolver o transtorno do espectro do autismo. Qualquer progresso quanto à prevenção seria bem-vindo dado o número de pessoas afetadas.”
Fonte: http://medicalxpress.com/news/2016-01-hints-nutritional-strategy-autism.html
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