Um desequilíbrio nos sistemas excitatório/inibitório com anormalidades nas vias glutamatérgicas tem sido implicado na patofisiologia do autismo. Além disso, a produção alterada de radicais livres também foi recentemente associada a esse transtorno. O autismo é uma alteração cerebral, uma desordem que compromete o desenvolvimento psiconeurológico e afeta a capacidade da pessoa se comunicar, compreender e falar, portanto, afeta seu convívio social.
Um estudo publicado em junho de 2012 na Biological Psychiatry avaliou a viabilidade do uso oral de N-acetilcisteína (NAC) no tratamento de distúrbios comportamentais em crianças com autismo.
A pesquisa coordenada por Antonio Hardan, da Universidade de Stanford, na Califórnia (EUA), revelou o efeito benéfico da suplementação com NAC em crianças com diagnóstico de autismo. Além da redução do comportamento repetitivo, o aminoácido diminuiu a irritabilidade, sintoma frequente nessas crianças e que muitas vezes necessitam do tratamento com medicamentos.
A equipe dividiu 33 crianças autistas com idades variando entre 3 e 11 anos para receber 900 mg/dia durante 4 semanas; em seguida 900 mg duas vezes/dia por 4 semanas; e 900 mg três vezes/dia durante mais 4 semanas. O comportamento foi avaliado no início do estudo e nas semanas 4, 8 e 12.
Uma melhoria significativa da irritabilidade foi observada em crianças que receberam NAC em comparação ao grupo que recebeu placebo, junto a uma redução de comportamentos repetitivos e típicos e efeitos colaterais limitados. Embora os efeitos documentados no estudo não foram tão expressivos quanto aos obtidos por medicamentos-padrão, o aminoácido pode vir a ser uma terapia alternativa para algumas crianças com autismo.
Segundo o autor, uma das justificativas do estudo era que o NAC é utilizado por profissionais de comunidade que se concentram em terapias alternativas. Porém, não há forte evidência científica que apoie essas intervenções, sendo necessário mais estudos para comprová-las.
A respeito da ação de neurotransmissores, existem aminoácidos que atuam como neurotransmissores inibitórios (taurina, glicina), excitatórios (glutamato, aspartato), precursores (tirosina, fenilalanina, triptofano) e os que transduzem os transmissores (glicina e serina, nos processos de metilação). Um desequilíbrio entre as concentrações plasmáticas de aminoácidos podem alterar a síntese de alguns neurotransmissores no sistema nervoso central e suas consequências funcionais.
A N-acetilcisteína é aprovada pela Food and Drug Administration (EUA) e ajuda a manter e restaurar a glutationa, um dos principais responsáveis pelo sistema antioxidante. Além disso, a cisteína (componente da NAC) estimula uma proteína, a cistina-glutamato, o que resulta na diminuição da neurotransmissão glutamatérgica. NAC possui dois efeitos: protege as células do cérebro, aumentando o nível de um metabólito antioxidante denominado glutationa, e reduz a excitabilidade do sistema de glutamato estimulando os receptores inibitórios.
Este pequeno estudo piloto apresentado pela Biological Psychiatry foi o primeiro passo de muitos que podem começar a determinar se NAC ou outros aminoácidos poderiam potencialmente se tornar um tratamento comprovado para o autismo.
Não é recomendado fazer qualquer uso de N-Acetilcisteína sem acompanhamento médico. A orientação de um profissional de saúde é sempre muito importante.
Fonte:
Hardan, A.Y., Fung, L.K., Libove, R.A., Obukhanych, T.V., Nair, S., Herzenberg, L.A., Frazier, T.W., Tirouvanziam, R. A randomized controlled pilot trial of oral N-acetylcysteine in children with autism. Biol Psychiatry. 2012 Jun 1;71(11):956-61.
Zavala, M., Castejón, H.V., Ortega, P.A., Castejón, O.J., Marcano de Hidalgo, A., Montiel, N. Desequilibrio de aminoácidos plasmáticos en pacientes autistas y en sujetos con trastorno de déficit de atención o hiperactividad. Rev Neurol 2001; 33 (5): 401-407.
Elsevier. “New treatment for irritability in autism.” ScienceDaily, 31 May 2012. Sat. 23 Jul. 2012.
“As informações fornecidas neste site destinam-se ao conhecimento geral e não devem ser um substituto para o profissional médico ou tratamento de condições médicas específicas. Procure sempre o aconselhamento do seu médico ou outro prestador de cuidados de saúde qualificado com qualquer dúvida que possa ter a respeito de sua condição médica. As informações contidas aqui não se destinam a diagnosticar, tratar, curar ou prevenir qualquer doença. Nunca desconsidere o conselho médico ou demore na procura por causa de algo que tenha lido em nosso site e mídias sociais da Essentia.”
Newsletter + Guia sobre resiliência
Assine a newsletter e receba o e-book “Guia sobre resiliência: a relação com o estresse e dicas práticas”. Exclusivo para assinantes.
Quero assinar