Você já ouviu falar em astaxantina? Esse pigmento vermelho-alaranjado presente em alguns organismos marinhos tem chamado atenção da ciência por suas possíveis relações com a saúde ocular.
Pesquisas recentes têm investigado como ele atua em diferentes estruturas do olho e em condições oculares distintas.
Neste texto, reunimos o que os estudos científicos mostram sobre a astaxantina e seu potencial papel na proteção e manutenção da visão. Confira!
O que é e para que serve a astaxantina?
A astaxantina (AST) é um pigmento natural vermelho-alaranjado da família dos carotenoides – a mesma classe de moléculas do betacaroteno que dá cor a alimentos como cenoura, abóbora e mamão.
Ela é encontrada sobretudo em ambientes marinhos, especialmente em microalgas como Haematococcus pluvialis, e como consequência nos animais que se alimentam delas, como o krill, o salmão, o camarão e a lagosta. É graças a ela que esses frutos do mar possuem uma coloração rosa, alaranjada ou avermelhada.
Nesses organismos, a astaxantina atua como um potente protetor contra os danos solares, fortalece o sistema imunológico, favorece a reprodução e aumenta a resistência ao estresse.
Ao contrário do betacaroteno, a astaxantina não se transforma em vitamina A, mas possui mecanismos especiais: consegue se posicionar totalmente na membrana das células, protegendo tanto a parte interna quanto a externa delas. Ela está relacionada a outros carotenoides como luteína e zeaxantina, compartilhando muitas funções importantes para a saúde.
Quais as propriedades da astaxantina?
Devido à sua estrutura molecular única, a astaxantina apresenta propriedades biológicas importantes. Estudos apontam uma participação em atividades antioxidantes, anti-inflamatórias e antiapoptóticas. Entenda a seguir o papel que elas exercem no organismo:
Antioxidante
Os antioxidantes ajudam o organismo a se defender dos efeitos dos radicais livres – moléculas produzidas naturalmente pelo organismo, mas que em excesso danificam as células e favorecem o estresse oxidativo, processo ligado a inflamações e ao surgimento de diversas doenças (algumas relacionadas à saúde ocular).
Entre eles, a astaxantina é destacada pela ciência por conta de sua potente ação antioxidante (característica já bem conhecida dos carotenoides). Ela atua como um “escudo celular”, neutralizando esses compostos instáveis e preservando a integridade das membranas. Assim, contribui para retardar o envelhecimento precoce, proteger a saúde ocular e fortalecer as defesas naturais do corpo.
Anti-inflamatória
A inflamação e o estresse oxidativo estão fortemente ligados – um estimula o outro, formando um ciclo que pode causar danos às células e favorecer doenças. Substâncias inflamatórias aumentam a produção de radicais livres, que, por sua vez, intensificam a inflamação.
De acordo com as evidências, a astaxantina pode ajudar a interromper esse ciclo, ao reduzir o acúmulo de radicais livres e bloquear a ativação de mecanismos inflamatórios dentro das células, como a via NF-κB, responsável pela liberação de substâncias inflamatórias.
Além disso, estudos demonstram que melhora a função dos neutrófilos (células de defesa), tornando-os mais eficientes no combate a microrganismos sem causar tanto dano às células.
Antiapoptótica
A apoptose é a morte celular programada – um processo natural e necessário para o desenvolvimento e manutenção dos tecidos. No entanto, quando ocorre de forma desordenada, pode estar envolvida em condições como problemas neurológicos, derrames e doenças cardíacas.
Conforme os estudos, em tecidos saudáveis, como os olhos e o cérebro, a astaxantina protege contra a morte celular, ou seja, evita que as células morram “antes da hora”.
Como a astaxantina age nos olhos?
De acordo com os artigos científicos citados anteriormente, um diferencial da astaxantina na saúde ocular é a sua aparente capacidade de atravessar a barreira hemato-retiniana. Essa estrutura protege o globo ocular, envolvendo a retina e impedindo a entrada de substâncias nocivas que estão na corrente sanguínea. Ao ultrapassar essa barreira, a astaxantina chega diretamente à retina.
Dessa forma, suas propriedades principais – antioxidante, anti-inflamatória e antiapoptótica – se complementam para contribuir com a saúde ocular de forma abrangente, ajudando a prevenir doenças oculares e preservar a visão.
Veja como cada propriedade da astaxantina atua na região ocular, de acordo com a ciência:
- Antioxidante: neutraliza os radicais livres, prevenindo danos às células da retina e do cristalino, estruturas essenciais para a visão clara e nítida;
- Anti-inflamatória: controla a produção de substâncias inflamatórias que, em excesso, podem prejudicar os tecidos oculares e causar doenças como a degeneração macular ou a síndrome do olho seco;
- Antiapoptótica: protege as células nervosas da retina, evitando sua morte precoce e mantendo a comunicação eficiente entre os olhos e o cérebro.
Qual o papel da astaxantina nas condições oculares?
A maioria das doenças oftálmicas está associada ao estresse oxidativo e à inflamação, que levam à produção de radicais livres que, em excesso, podem causar morte celular (apoptose). Um número crescente de evidências sugere que a astaxantina pode ser eficaz na prevenção e no tratamento dessas doenças.
Confira abaixo o que a ciência já descobriu sobre o papel da astaxantina em condições oculares:
Síndrome do olho seco
Condição multifatorial, a síndrome do olho seco (também conhecida como ceratoconjuntivite seca) afeta a lubrificação da superfície ocular. Ela ocorre quando os olhos não produzem lágrimas suficientes ou elas evaporam rapidamente, deixando a superfície do olho ressecada, mais vulnerável a inflamações, lesões e desconforto.
Uma pesquisa avaliou os efeitos do uso da astaxantina em pessoas de meia-idade e idosos com olho seco leve a moderado. Após o tratamento, os pacientes apresentaram melhora em sintomas como irritação e desconforto, além de melhora na estabilidade da lágrima, saúde da córnea e funcionamento das glândulas lacrimais.
Cansaço visual
O cansaço visual ou fadiga ocular (astenopia) é uma condição comum que pode ocorrer diariamente e apresenta sintomas como desconforto, lacrimejamento, visão turva, sensibilidade à luz e, em casos mais graves, dor. Um dos fatores que contribuem para a fadiga ocular é o uso prolongado de telas.
Um estudo japonês investigou se a astaxantina teria participação no alívio da fadiga ocular em pessoas que trabalham em monitores de computador. Trabalhadores expostos diariamente a telas receberam astaxantina ou placebo, e a resistência dos músculos oculares foi medida com instrumentos específicos. Os participantes que tomaram astaxantina apresentaram alívio significativo da fadiga ocular e do tempo de acomodação (o tempo que os olhos levam para ajustar o foco de objetos próximos ou distantes) em comparação ao grupo placebo.
Em outros casos, a astaxantina pode ser usada em combinação com outros ativos para analisar sua eficácia. Esse foi o objetivo de uma pesquisa que avaliou os efeitos de um suplemento contendo antocianina (um pigmento vermelho arroxeado com atividade antioxidante), astaxantina e luteína (um carotenoide com função antioxidante, muito pesquisado também na saúde ocular) em adultos japoneses com fadiga ocular causada pelo uso de telas.
Durante 6 semanas, os participantes tomaram cápsulas do suplemento ou placebo. O grupo que recebeu o suplemento apresentou melhora na função de acomodação dos olhos, na focagem e na visão de objetos próximos, o que pode prevenir a redução da acuidade causada pelo uso prolongado de telas.
Doenças da retina
A retina é a camada mais interna e sensível à luz do olho, e também o tecido mais ativo do corpo, precisando constantemente de muito oxigênio e estando quase sempre exposta à luz. Por isso, ela é vulnerável a danos causados pelo excesso de radiação e à inflamação que pode surgir em seguida.
A morte das células ganglionares da retina é comum em várias doenças oculares, como glaucoma, neuropatias ópticas e retinopatia diabética, enquanto a morte das células do epitélio pigmentar da retina (RPE) é fator de risco para o desenvolvimento da degeneração macular relacionada à idade (DMRI).
Desse modo, os estudos apontam que a astaxantina poderia auxiliar no manejo dessas condições de diferentes maneiras, como:
- Reduzindo o estresse oxidativo e a inflamação;
- Protegendo as células nervosas da retina;
- Melhorando a função visual em doenças como DMRI, retinopatia diabética e glaucoma;
- Evitando a formação de vasos anormais e morte celular.
Uveíte
A uveíte é um termo abrangente que descreve um grupo de condições inflamatórias que afetam a camada média do olho e representam uma causa comum de perda de visão e dor ocular.
As evidências mostram que a astaxantina pode ajudar a reduzir esse tipo de inflamação. Em uma pesquisa com animais com uveíte induzida, o seu uso diminuiu a quantidade de células inflamatórias, mesmo nos primeiros sinais de inflamação. A astaxantina também inibiu vias celulares de inflamação.
Ceratite fúngica
A ceratite fúngica é uma infecção da córnea causada por fungos que pode provocar dor, vermelhidão, turvação da visão e, em casos graves, danos permanentes à visão. Pesquisadores estudaram se a astaxantina poderia ajudar em um modelo experimental.
Nos animais tratados com astaxantina, a córnea permaneceu mais transparente e os sinais de inflamação diminuíram. Também houve redução na produção de substâncias inflamatórias e no recrutamento de algumas células do sistema imunológico, indicando menor resposta inflamatória.
Catarata
A catarata é a opacidade do cristalino do olho, reduzindo a visão, e é uma das principais causas de cegueira no mundo, geralmente necessitando de cirurgia corretiva. Embora ainda não existam evidências sobre o uso de astaxantina em catarata relacionada à idade (o tipo mais comum observado na prática clínica), estudos experimentais investigaram seus efeitos em origens distintas no desenvolvimento da doença.
Pesquisadores avaliaram se a astaxantina poderia proteger os olhos contra a catarata causada por diabetes mellitus tipo 1 induzida em animais. O resultado mostrou que a substância retardou o surgimento e a progressão da catarata metabólica, medida pela opacidade do cristalino, além de aumentar os níveis de enzimas antioxidantes e diminuir indicadores de degradação de membrana celular.
Onde encontrar astaxantina?
A fonte natural mais rica em astaxantina é a alga Haematococcus pluvialis. Embora essa alga não seja consumida diretamente por humanos, ela é ingerida por animais marinhos que, em consequência disso, se tornam boas fontes desse carotenoide.
Além dos alimentos, também existem suplementos e produtos manipulados com astaxantina, indicados por profissionais de saúde quando há necessidade de maior ingestão ou quando o consumo de alimentos ricos nessa substância é baixo. Confira abaixo onde encontrar astaxantina.
Alimentos com astaxantina
- Krill: pequenos crustáceos que servem como base da cadeia alimentar marinha e são muito importantes na biota marinha antártica – são a segunda maior fonte de astaxantina natural do mundo;
- Outros crustáceos: camarão, caranguejo, lagosta e lagostim;
- Peixes: salmão selvagem, salmão do Atlântico, salmão ártico, truta, atum, peixe-espada e sargo-vermelho;
- Leveduras: a levedura Xanthophyllomyces dendrorhous (anteriormente conhecida como Phaffia rhodozyma) também pode conter astaxantina, sendo uma fonte usada para produção comercial.
Suplementos e manipulados com astaxantina
Embora os alimentos citados sejam fontes naturais de astaxantina, as quantidades presentes podem variar e, muitas vezes, podem não ser suficientes para alcançar os efeitos terapêuticos observados em estudos clínicos. Por isso, a suplementação pode ser considerada, especialmente para objetivos específicos de saúde.
Quando recomendado por um profissional de saúde, a astaxantina pode ser encontrada tanto em suplementos prontos quanto em medicamentos manipulados, podendo ser administrada em diferentes formas farmacêuticas, de acordo com a necessidade e particularidade de cada pessoa.
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