Se um tipo de vírus evoluiu a partir de organismos vivos, faria sentido considerá-lo vivo. Mas esses vírus estão vivos ou são mais como zumbis Imagine-se andando em um parque enquanto algumas das pessoas ao seu redor se comportam como os zumbis no set de The Walking Dead. Você certamente reconheceria a diferença entre uma pessoa, um animal, uma árvore e um desses zumbis, correto?
Infelizmente, muitos cientistas não têm sido capazes de classificar os vírus, porque, ao contrário das pessoas, animais ou árvores, eles não pertencem a nenhum desses grupos. Em teoria, eles seriam como aqueles zumbis sem cérebro que andam sem direção clara. Não ser capaz de reconhecer a que grupo pertence um vírus torna mais difícil para os cientistas estudá-lo e encontrar soluções para os desafios de saúde que pode apresentar.
Onde podemos inserí-los?
Os cientistas fazem esta pergunta todos os dias quando tentam descobrir a relação entre diferentes seres vivos. As respostas não são simples ou triviais. As relações biológicas não só servem para elaborar um catálogo de vida, mas também para compreender como ela evoluiu para dar origem a suas muitas formas.
Os vírus são um exemplo perfeito. Eles representam um problema para os biólogos porque não possuem células, portanto não fazem parte de nenhum dos três grupos principais, ou “domínios”, de seres vivos dos quais todos os outros organismos pertencem: bactérias, arqueas e eucariotas.
Alguns cientistas argumentam que os vírus não podem ser considerados seres vivos e é melhor vê-los como material genético independente que não pode se replicar por si só e que precisa sequestrar uma célula hospedeira.
Outros acreditam que os vírus evoluíram de organismos celulares e, portanto, podem ser considerados um quarto domínio de seres vivos. Esta última teoria foi apoiada pela descoberta, há uma década, de vírus gigantes que são mais semelhantes aos organismos celulares.
Mas um novo estudo, publicado na revista Science, sobre os genomas desses vírus gigantes, põe em questão esta ideia. Então, será que os cientistas terão que recomeçar a procura da origem dos vírus?
Os vírus são seres microscópicos que escapam às nuances da vida celular. Eles geralmente são compostos de material genético – DNA ou RNA –, muitas vezes envoltos por uma cápsula de proteína chamada de capsídeo, a qual às vezes possui camadas adicionais retiradas de uma célula hospedeira. Só podendo se replicar dentro de uma célula hospedeira, sequestram seu metabolismo, e uma versão diferente desses invasores infecta os seres vivos.
Esta sua enorme dependência às células hospedeiras os coloca dentro dos limites da definição de vida, de modo que alguns os consideram seres vivos e outros não.
Não é de se surpreender que a maioria das histórias de zumbis envolvam um vírus. Talvez seja mais fácil considerá-los mortos-vivos. A grande questão é: de onde eles vêm?
Existem teorias concorrentes que tentam explicar a evolução dos vírus. Uma delas os apresenta como descendentes de uma antiga linhagem de organismos celulares que viviam dentro de outras células e cuja estrutura, com o tempo, foi simplificada.
Isso faria deles os únicos sobreviventes de um quarto domínio de seres vivos, há muito desaparecido, que deixou para trás sua estrutura celular. Se os vírus evoluíram a partir de organismos vivos, neste caso faria sentido considerá-los vivos.
Outra teoria propõe que os vírus surgiram como entidades genéticas independentes, vagabundos do genoma que escaparam de seu confinamento celular. Eles poderiam estar relacionados com os transposons (ou elementos de transposição)*, capazes de serem copiados ou cortados do genoma e, em seguida, aderir a outras áreas do DNA.
Neste caso, os vírus seriam o resultado de acidentes moleculares que se tornaram evolutivamente estáveis. O que significaria que eles nunca foram organismos vivos completos.
Ambas as propostas têm fraquezas. A primeira não explica a simplicidade dos vírus. Não existe outro organismo conhecido com esse grau de simplificação.
Por outro lado, a segunda teoria não explica por que os vírus são muito mais complexos do que outros elementos genéticos móveis, nenhum dos quais possui uma camada (como uma concha) comparável ao capsídeo.
Em 2004, os cientistas descobriram uma espécie de vírus gigante que parecia inclinar a balança em favor da teoria pela origem celular. Há boas razões para chamá-los de gigantes. Alguns são 10 vezes maiores, tanto pelo tamanho quanto pelo comprimento do genoma, do que o vírus da gripe e não possuem menos de 2.500 genes, em comparação com os poucos 11 genes contidos no da gripe.
Este material genético adicional contém instruções para produzir proteínas, algumas das quais grande parte dos outros vírus apresenta falta, mas são encontradas em outras formas de vida. O sistema molecular dos vírus gigantes não está completo e eles também têm de invadir as células para se reproduzirem. Mas alguns pesquisadores apontam que esses genes poderiam ser resquícios de um passado celular, o que apoiaria a existência de um quarto domínio de seres vivos.
Por outro lado, a natureza volátil dos vírus os tornam propensos a tomar genes de outros organismos. Isso levou alguns cientistas a argumentar que, para os vírus gigantes, todos esses genes adicionais são uma consequência do roubo evolucionário.
Agora, um novo estudo confirmou a natureza “emprestada” de todos esses genes de vírus.
A pesquisa usa um método mais avançado, chamado New Generation Sequencing (NGS) para mapear o DNA retirado de uma estação de tratamento de águas residuais na Áustria.
Nos últimos anos, estudos baseados em NGS revelaram uma miríade de novas formas de vida e, neste caso particular, revelou-se uma linhagem completamente nova de vírus gigantes.
Entre todos os vírus gigantes, os Klosneuvirus possuem o maior conjunto de genes envolvidos na fabricação de proteínas.
Ao comparar os genomas dos vários vírus gigantes e cuidadosamente reconstruir a sua evolução, os investigadores convincentemente apontam que sua máquina de fabricação de proteínas é uma adição genética relativamente recente.
No estudo, argumenta-se que as células hospedeiras que esses vírus tentaram sequestrar podem ter desenvolvido uma estratégia de defesa baseada em esconder as proteínas dos invasores.
Como resultado, os vírus se adaptaram incorporando alguns desses genes em seu genoma.
Os pesquisadores concluíram que os vírus gigantes analisados neste estudo evoluíram em tempos diferentes a partir de vírus menores, descartando a ideia de que evoluíram de organismos celulares.
No entanto, os novos testes não trazem nenhuma conclusão final. Na árvore da vida novos nós são descobertos todos os dias, e uma futura descoberta ainda poderia fornecer uma ligação entre a vida celular e acelular.
*N.daT.: Transposons ou elementos de transposição podem ser definidos como uma sequência de DNA com a capacidade de mudar sua posição dentro do genoma. Este fenômeno valeu o Prêmio Nobel em 1983 para a cientista americana que o descobriu (entre os anos de 1940 e 1950), Barbara McClintock. Essa capacidade de transposição é peça importante para a variabilidade genética das espécies, podendo também causar diversas doenças.
Traduzido por Essentia Pharma
Fonte:http://www.thesleuthjournal.com/exactly-virus-pose-challenge-scientists/
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