A homeostase intestinal é altamente regulada através de uma complexa interação entre a imunidade da mucosa, a integridade do epitélio, a microbiota intestinal e nutrientes. Estes últimos são cada vez mais conhecidos como uma variável que possui um papel crucial nesse processo, quer por interação direta com o epitélio quer alterando a composição da microbiota, ou na qualidade de alérgenos. Tanto a inflamação quanto o câncer podem resultar na desregulação dessa homeostase.
O ômega-3, ácidos graxos poli-insaturados n-3 (PUFAs), são denominados “ácidos graxos essenciais” e, normalmente, são obtidos a partir da dieta desde que não podem ser sintetizados por células humanas. Em particular, o a-linolênico (ALA) é um n-3 PUFA que é endogenamente convertido em ácido eicosapentaenoico (EPA) e subsequentemente em ácido docosahexaenoico (DHA). As propriedades anti-inflamatórias dos ômega-3 PUFAs têm sido extensivamente estudadas quanto ao seu papel na prevenção e tratamento de muitas doenças inflamatórias humanas [1-4]. O consumo de frutos do mar fornece muitos benefícios para a saúde, muitos dos quais vêm da presença de uma quantidade adequada de PUFAs, incluindo EPA e DHA, e antioxidantes [5,6]. A maioria dos estudos têm apoiado o valor de PUFAs derivados de óleo de peixe na inibição da inflamação e melhoria de doenças inflamatórias, como a asma, doenças alérgicas, doenças cardiovasculares e diabetes [7-10]. No intestino, o óleo de peixe tem provado ser fortemente protetor na inflamação intestinal em modelos animais [11-15], embora resultados controversos têm sido relatados na inflamação intestinal humana, especialmente na doença inflamatória do intestino (IBD) [2,7,16-18]. Curiosamente, foi apontado um papel importante do óleo de peixe na modulação da microbiota intestinal [19-22]. Mais recentemente, o óleo de krill (KO), um extrato preparado a partir de uma espécie de krill antártico, Euphausia superba, contendo ácidos graxos ômega-3, ácidos graxos derivados de fosfolipídios e o pigmento natural, astaxantina, surgiu supostamente por seus benefícios de saúde, incluindo a gestão e tratamento de distúrbios inflamatórios e metabólicos [5,23-28].
O KO é comparável ao óleo de peixe como fonte dietética de n-3 PUFAs, embora ele compreenda fosfolipídeos e triglicerídeos, enquanto que o óleo de peixe contém apenas triglicerídeos. Estudos pré-clínicos demonstraram que os ácidos graxos ligados a fosfolipídeos são absorvidos em órgãos específicos, tais como o coração, cérebro e fígado de animais, melhor do que quando ligado ao glicerol como os triglicerídeos [29]. Além disso, quando quantidades semelhantes de n-3 PUFAs são administradas, o KO parece ter uma maior eficácia na promoção do catabolismo lipídico [30], regulando negativamente a atividade de vias envolvidas na produção de glicose hepática, bem como na síntese de lipídios e colesterol [31]. Recentemente, Ramprasath et al. observaram um aumento nas concentrações plasmáticas de EPA e DHA com o consumo de KO, em comparação com o óleo de peixe, e sugeriram ser devido a diferenças na absorção e biodisponibilidade com base na diferença estrutural dos dois óleos [32,33].
Os estudos das interações entre o hospedeiro e microbiota são fundamentais para a compreensão dos mecanismos envolvidos na homeostase intestinal e inflamação. Perturbações na estrutura de complexas comunidades comensais (referidas como disbiose) podem desencadear uma série de doenças mediadas pelo sistema imune, incluindo IBD [40,41].
Estudos recentes têm identificado uma prevalência de espécies bacterianas específicas em pacientes com doença de Crohn (CD), uma das duas formas de IBD, entre as quais está a Escherichia coli aderente-invasiva (AIEC) [42]. A AIEC é caracterizada por acrescida adesão e invasão epitelial, sobrevivência dentro de macrófagos, e formação de biofilmes [43]. Por essas razões, é pensado que essa espécie desempenhe um papel na patogênese da IBD [44].
Assim, no presente estudo, que teve como objetivo avaliar a capacidade de KO para regular a inflamação intestinal, induzindo a restituição funcional e morfológica epitelial, melhorando a sobrevivência das células e reduzindo a aderência e invasão de bactérias AIEC.
Autores: Manuela Costanza, Vicenzo Cesi, Enrica Prete, Arma Negroni, Francesca Palone, Salvatore Cuchiarc, Salvatore Oliva, Beatrice leter, Laura Stronati. Revista: Digestive and lever Disease – Vol. 48, pág. 34 – 42, 2016.
Antecedentes: O óleo de krill é derivado de fonte marinha e rico em fosfolipídios, astaxantina e ácidos graxos ômega-3. Vários estudos descobriram seus benefícios contra danos oxidativos e inflamatórios.
Tivemos como objetivo avaliar a capacidade do óleo de krill para reduzir a inflamação intestinal, melhorando a integridade da barreira epitelial, aumentando a sobrevivência das células, e reduzindo a patogenicidade da Escherichia coli aderente-invasiva.
Células Caco2 e HT29 foram expostas a cytomix (TNF-α e IFNγ) para induzir a inflamação e expondo juntamente a cytomix e óleo de krill. Níveis de E-caderina, ZO-1 e F-actina foram analisados através de imunofluorescência para avaliar a integridade da barreira. Teste de raspagem foi realizado para medir a cicatrização de feridas. A sobrevivência celular foi analisada por citometria de fluxo. LF82 Escherichia coli aderente-invasiva foi usada para o ensaio de adesão/invasão.
E-caderina e ZO-1 diminuíram nas células inflamadas, com perda de adesão célula-célula, e a polimerização de F-actina aumentou as fibras de stress. O óleo de krill restaurou as condições iniciais, melhorou a cicatrização de feridas, e reduziu a adesão/invasão bacteriana em células epiteliais e sobrevivência no interior dos macrófagos; além de reduzir a expressão do mRNA induzida por LF82 de citocinas pró-inflamatórias.
O óleo krill melhora a integridade da barreira intestinal e a restituição epitelial durante a inflamação, e controla a adesão e invasão bacteriana às células epiteliais. Assim, o óleo de krill pode representar uma ferramenta inovadora para reduzir a inflamação intestinal.
krill antártico; epitélio intestinal; bactérias luminais
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