Nos Estados Unidos, as doenças cardiovasculares são responsáveis por cerca de 1 em cada 3 mortes. A pedra angular no tratamento da doença cardíaca é a redução das elevações dos níveis de LDL, popularmente conhecido como o “mau colesterol”, principalmente com estatinas, o fármaco mais usado no tratamento do colesterol / doença do coração.1-4
No entanto, quando se olha em todos os estudos para a eficácia global do tratamento com estatinas, as taxas de morbidade e mortalidade entre os pacientes tratados permanecem ainda cerca de 2/3 para 3/4 em pacientes tratados com placebo. No estudo “Treating to New Targets” ainda ocorria 80% de casos de doença cardiovascular, apesar do tratamento intensivo com estatinas em altas doses.5-7
Assim, muitos pacientes – mesmo aqueles tratados agressivamente com estatinas para atingir as metas de LDL – têm risco cardiovascular residual. Esse risco remanescente é associado com baixos níveis de HDL, aumento dos níveis de triglicerídeos e números elevados de pequenas, densas, partículas aterogênicas de LDL, e outras anormalidades metabólicas comuns que você vai ler neste artigo.8-17
Por que o nível de seu LDL – o “colesterol ruim” – não conta a verdadeira história …
O LDL é o tipo de colesterol que vem recebendo mais atenção, e ainda está no centro do palco na prevenção e tratamento da doença cardiovascular. No entanto, como se vê, não é o melhor preditor de evolução das doenças do coração…
Em pessoas hospitalizadas por doenças do coração, quase metade têm níveis de LDL de admissão abaixo de 100 mg/dL, o que é considerado ideal. Mais da metade dos pacientes têm níveis de HDL de admissão inferiores a 40 mg/dl, que é demasiado baixo. Além disso, a maioria dos pacientes têm níveis elevados de triglicerídeos. Um outro estudo em pacientes com doença arterial coronariana revelou que 63% têm níveis baixos de HDL, e 40% dos pacientes que não teriam qualquer razão para tomar medicamentos para baixar o colesterol, também têm baixo nível de HDL. Isso mostra claramente que os níveis de LDL não contam toda a história. Em pessoas com doença cardíaca ou síndrome coronariana aguda, a anormalidade lipídica mais comum não está no LDL, mas nos baixos níveis de HDL, que ocorrem em quase 70% dos casos.18-21
Estima-se que pelo menos 18 milhões de adultos norte-americanos com doença cardiovascular têm níveis de LDL abaixo de 100-130 mg/dL. A maioria dos pacientes que desenvolvem doença cardíaca têm níveis de LDL na faixa “normal”, e os homens com doenças cardíacas têm níveis de LDL não diferentes dos homens sem doença cardíaca. Essas estatísticas mostram claramente que precisamos abandonar a visão míope sobre o LDL e ampliar nossa visão de fatores de risco relacionados com os lipídios.22-24
Dislipidemia aterogênica – o perfil lipídico mais completo.
Quando as pessoas falam sobre o colesterol em termos gerais, o que referem é tipicamente LDL. No entanto, o LDL é apenas uma pequena e simplificada parte do quebra-cabeça.
Uma forma comum de anormalidade lipídica é dislipidemia aterogênica, o que denota uma constelação de fatores de risco lipídico – a “tríade lipídica” – com baixos níveis de HDL, triglicerídeos elevados, e aumento do número de pequenas partículas de LDL. A dislipidemia aterogênica parece ser o principal motor de desenvolvimento da aterosclerose.25-26
A dislipidemia aterogênica é vista frequentemente em pessoas que apresentam medidas de cintura além do recomendado e resistência à insulina, e naquelas que são fisicamente inativas. Ela também ocorre comumente em pessoas com doença cardíaca precoce. Nota-se que nestes distúrbios metabólicos, os níveis de LDL são frequentemente normais Além disso, convém sublinhar que o colesterol LDL não faz parte da dislipidemia aterogênica nem de síndrome metabólica. No entanto, tanto os níveis baixos de HDL quanto o aumento dos níveis de triglicerídeos fazem parte dos critérios da síndrome metabólica.
HDL – o colesterol “bom”
É bem documentado que ter um nível baixo de HDL é um fator de risco independente para o risco de doença cardiovascular. É importante ressaltar que o risco cardiovascular aumentado associado com HDL baixo é maior do que o associado com LDL elevado, e persiste mesmo após o ajuste para outros parâmetros lipídicos e fatores de risco cardiovasculares. Para cada diminuição de 1 mg/dL (0,026 mmol/L) de HDL, o risco de doença cardíaca coronária aumenta em 2% nos homens e 3% em mulheres.32-36
Homens com HDL abaixo de 35 mg/dL têm o dobro do risco de morte por qualquer causa e 4 vezes maior risco de doença cardíaca, em comparação com homens com HDL acima de 54 mg/dL. Mulheres com HDL abaixo de 45 mg/dL têm 1,5 vezes maior risco de morte por qualquer causa e 3 vezes maior risco de doença cardíaca, em comparação com mulheres com HDL acima de 69 mg/dL.33
Notavelmente, a significância prognóstica de HDL baixo é semelhante tendo ou não um nível de LDL elevado. O risco de doença cardíaca coronariana em um paciente com LDL elevado (220 mg/dL ou 5,7mmol/L) e HDL normal (45 mg/dL ou 1,2mmol/L) é comparável com o risco de um doente com LDL bem controlado (100 mg/dL ou 2,6mmol/L) e HDL baixo (25 mg/dL ou 0,6mmol/L).32,37
Triglicerídeos (gorduras no sangue)
Os primeiros estudos não demonstraram de forma convincente uma associação independente entre os níveis de triglicerídeos e doença cardiovascular e mortalidade. No entanto, dados recentes sugerem que níveis elevados de triglicerídeos e lipoproteínas ricas em triglicerídeos contribuem para causar aterosclerose prematura e doença coronariana mesmo em pessoas com níveis normais de LDL.13,38-42
Em comparação com níveis de triglicerídeos de 90 a 149 mg/dl, os níveis de triglicerídeos de 150 a 199 mg/dl (limítrofe-alto) e, acima de 200 mg/dL (alto), estão associados com um risco maior de mortalidade cardiovascular e total de 9 a 15% e 20 a 25%, respectivamente. Por outro lado, tendo baixos níveis de triglicerídeos, inferiores a 90 mg/dl, está associado com redução de 6 a 17% de risco de mortalidade cardiovascular e por todas as causas.43
No geral, o risco de morte cardiovascular e por todas as causas cresce em 13% e 12% para cada aumento de 88 mg/dL (1 mmol/L) no nível de triglicérides. Esse risco está presente mesmo depois de ter tomado em consideração outros fatores de risco comuns, tais como idade, sexo, pressão arterial, IMC, diabetes e tabagismo. Um outro estudo encontrou um aumento de 32% e 76% do risco de doenças cardiovasculares em homens e mulheres, respectivamente, para cada aumento de 88 mg/dL no nível de triglicerídeos, independente dos níveis de HDL.
Além de aumentar o risco e cardiovascular e de mortalidade, o nível elevado de triglicerídeos pode aumentar o risco de câncer. Esses resultados sugerem que a redução dos níveis de triglicerídeos pode ajudar a prevenir doenças cardiovasculares e várias causas de morte.43-45
Partículas pequenas e densas de LDL
O nível de colesterol LDL não é um bom indicador para o risco de aterosclerose e doença cardiovascular, porque o risco correlaciona mais estreitamente com o número de partículas aterogênicas em circulação do que com a quantidade de colesterol transportado por essas partículas. Para ajudar a entender por que o número de partículas de LDL é mais importante do que a quantidade de colesterol transportado por essas partículas de LDL, pode-se pensar num engarrafamento, que é causado pelo número de carros, independentemente do número de pessoas dentro dos carros.
Há evidências substanciais que – em qualquer nível de LDL dado – uma preponderância de partículas pequenas e densas de LDL estão associadas ao maior risco de doença cardíaca coronária, em comparação com uma preponderância de partículas de LDL maiores. Até recentemente, um efeito independente de LDL de pequeno porte e denso não tinha sido estabelecido, em parte devido às elevações concomitantes em triglicerídeos e redução de HDL. No entanto, uma análise recente demonstrou que em três de quatro metodologias de laboratórios independentes, a associação entre partículas pequenas e densas de LDL e o aumento da aterosclerose é independente das outras medições de lipídeos. Isso realça a importância dessas partículas no desenvolvimento da doença cardiovascular, bem como um menor risco potencial conseguido por tratamentos que provoquem sua redução.46,48-51
É comum a dislipidemia aterogênica?
Mais da metade dos adultos norte-americanos na população em geral têm anormalidades lipídicas. Enquanto apenas 28% da população em geral têm LDL elevado, mais da metade tem triglicerídeos elevados. Os dados da terceira Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição, EUA, mostraram que o baixo HDL está presente em 35% dos homens (definidos como abaixo de 40 mg/dL) e 39% das mulheres (definida como abaixo de 50 mg/dL). Nomeadamente, a dislipidemia aterogênica é altamente prevalente mesmo em pessoas com baixos níveis de LDL e nos doentes que receberam tratamento com estatinas. Os baixos níveis de HDL e triglicerídeos elevados são ainda comuns entre os pacientes tratados para dislipidemia.2,55,56
A grande maioria dos adultos norte-americanos – 70% – está com sobrepeso ou obesidade, e cerca de 40% dos adultos americanos têm síndrome metabólica. A prevalência da resistência à insulina segue junto com a da síndrome metabólica, e se reflete nas cinturas em constante expansão da população dos EUA; mais da metade dos adultos americanos têm obesidade abdominal (definida como uma circunferência da cintura igual ou superior a 40 polegadas em homens e 34 polegadas em mulheres).57-63
Resumo
O (inaceitavelmente) alto risco residual entre pessoas em tratamento intensivo com estatinas indica claramente que o LDL – o colesterol “ruim” – não é o principal culpado por trás do maior assassino nos tempos modernos – a doença cardiovascular!
Como se constata, o risco que tem sido atribuído ao colesterol LDL está mais fortemente correlacionado com o número de partículas de LDL do que a quantidade total de colesterol transportado nas partículas de LDL. Pense num engarrafamento causado pelo número de carros, independentemente do número de pessoas nos carros.
Estilos de vida sedentários e grossas cinturas dão origem a baixos níveis de HDL – o colesterol “bom” – e altos níveis de triglicerídeos (gorduras no sangue). Estes por sua vez são acompanhados por um número elevado de partículas pequenas e densas de LDL (aterogênicas), e representam a forma mais comum de anormalidade lipídica – dislipidemia aterogênica.
Uma alimentação saudável e exercício físico regular são as melhores formas de prevenir e tratar a dislipidemia aterogênica. E alguns suplementos dietéticos – especialmente niacina (altas doses de vitamina B3) e óleo de peixe – têm maiores efeitos benéficos sobre a dislipidemia aterogênica que o fármaco mais amplamente prescrito contra colesterol – as estatinas! -, e sem os efeitos secundários perigosos.
Traduzido por Essentia Pharma
Referências podem ser encontradas na página do artigo original: http://www.agelessforever.net/anti-aging-news-blog/why-you-need-to-look-beyond-your-ldl-bad-cholesterol-level
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