Enxergar com clareza vai muito além de ver bem, é também uma forma de viver melhor. A saúde ocular merece atenção desde os primeiros dias de nascimento e ao longo de toda a vida.
Além de impactar diretamente o bem-estar e a qualidade de vida, a visão também reflete o estado geral do corpo, funcionando como um sinal de alerta para outras condições de saúde.
Neste texto, você vai entender por que cuidar dos olhos é essencial, como funciona a visão, o que pode afetá-la e como manter sua saúde ocular em dia, com bons hábitos, acompanhamento médico e os nutrientes certos.
Como funciona a visão?
Pense no olho como uma câmera que capta imagens e manda para o “computador” do corpo: o cérebro. Para começar, tudo o que vemos é uma tradução, feita pelo cérebro, dos estímulos luminosos que chegam nos olhos. Ou seja, eles funcionam como uma máquina fotográfica. Confira o passo a passo de como esse processo ocorre:
- Entrada da luz: a luz do ambiente entra pela córnea, que é a parte transparente da frente do olho. Ela funciona como a “janela” e também ajuda a focar a luz;
- Regulação da luz: a luz passa pela pupila (o pontinho preto no centro do olho). A íris (parte colorida) controla o tamanho da pupila, regulando a quantidade de luz que entra, como o diafragma de uma câmera;
- Foco: depois, a luz passa pelo cristalino (uma “lente” que fica atrás da íris), que muda de forma para focar objetos próximos ou distantes;
- Projeção da imagem: a luz chega à retina, que fica no fundo do olho e tem células sensíveis à luz chamadas fotorreceptores (cones e bastonetes). Elas transformam a luz em sinais elétricos;
- Interpretação cerebral: esses sinais seguem pelo nervo óptico até o cérebro, que organiza tudo e forma a imagem final.
Por que é importante cuidar da saúde ocular?
Cuidar da saúde dos olhos é um gesto de autocuidado que faz toda a diferença ao longo da vida. Manter uma rotina de prevenção permite identificar precocemente alterações na visão, facilitando os tratamentos.
Os dados mostram que, com o aumento da expectativa de vida e da população, cresce também o número de pessoas com deficiência visual e cegueira, destacando ainda mais a urgência nos cuidados preventivos e na detecção precoce para um tratamento efetivo.
Além disso, é interessante pontuar que conservar uma boa visão contribui para o aprendizado escolar, o desempenho no trabalho, para a segurança no trânsito e traz mais conforto nas atividades de lazer, como ir ao cinema e assistir a um bom filme para relaxar.
Para reforçar essa conscientização, no dia 10 de julho é celebrado o Dia Mundial da Saúde Ocular, incentivando a prevenção e os cuidados com a visão em todas as fases da vida.
Saúde que vai além da visão
Cuidar da saúde ocular vai muito além da visão. Os olhos podem revelar sinais de doenças em outras regiões e ajudar no diagnóstico e tratamento adequados. Alterações sutis, como olhos amarelados, podem indicar condições no fígado ou no pâncreas, por exemplo. Já a ardência e a irritação ocular podem estar associadas a alergias ou inflamações.
O contrário também é verdadeiro: sintomas em outras partes do corpo podem ter origem nos olhos. Dores de cabeça frequentes, por exemplo, podem ser reflexo de problemas visuais não corrigidos. Portanto, cuidar da saúde ocular pode refletir em benefícios na saúde como um todo.
O que pode afetar a saúde ocular?
A saúde ocular pode ser influenciada por uma série de fatores ambientais, genéticos e comportamentais, como:
- Erros refrativos não corrigidos, como miopia, hipermetropia, astigmatismo e presbiopia;
- Doenças oculares, como catarata, glaucoma e degeneração macular;
- Exposição excessiva à luz azul, por meio de telas de celulares, computadores e LEDs;
- Exposição prolongada à luz ultravioleta (UV), que aumenta o risco de catarata e degeneração macular;
- Fatores genéticos;
- Tabagismo;
- Condições de saúde que podem evoluir para complicações oculares, como diabetes e hipertensão;
- Deficiências nutricionais;
- Privação de sono, que pode causar olho seco e fadiga ocular;
- Higiene ocular inadequada, como uso incorreto de lentes de contato ou de maquiagem contaminada;
- Falta de acesso a exames oftalmológicos regulares, dificultando o diagnóstico precoce de problemas visuais.
Qual a diferença entre miopia, hipermetropia, astigmatismo e presbiopia?
Entre os tipos de problemas de visão mais comuns, estão a miopia, a hipermetropia, o astigmatismo e a presbiopia. Eles ocorrem por problemas de refração, ou seja, são condições oculares que dificultam a focalização de luz na retina. Isso resulta em dificuldades para enxergar bem. Entenda as diferenças entre eles:
Miopia
A miopia (ou visão curta) é um problema de refração em que a pessoa tem dificuldade de enxergar de longe. Os principais fatores de risco envolvem genética, excesso de atividades de perto (leitura, celular, computador), pouca exposição à luz natural e idade jovem (miopia geralmente surge na infância ou adolescência).
Hipermetropia
Também conhecida como visão longa, é mais comum que a pessoa não enxergue bem de perto, fazendo um esforço visual maior. Por isso, pode ter resistência a algumas atividades como leitura e artesanato. Porém, a visão de longe também pode ser prejudicada em quem tem essa condição. Em casos mais leves, a pessoa pode nem perceber o problema, mas, à medida que a demanda visual aumenta, surgem os sintomas.
Astigmatismo
Causado por uma distorção na curvatura da córnea (ou, menos frequentemente, do cristalino), que leva a uma visão embaçada, distorcida ou borrada (sem nitidez) em todas as distâncias. Em vez de um único ponto focal, a imagem se forma como uma linha no olho. Pode ser causado por múltiplos fatores e, muitas vezes, estar associado à miopia ou hipermetropia.
Presbiopia
Caracterizada pela dificuldade de enxergar de perto. Geralmente aparece a partir dos 40 anos e não é considerada uma doença, mas, sim, algo natural do envelhecimento ocular. Com isso, a idade avançada, o histórico familiar e as condições oculares pré-existentes podem ser os principais fatores de risco dessa condição.
Quais as principais doenças oculares?
As principais doenças oftalmológicas que precisam de atenção são:
- Conjuntivite: inflamação na conjuntiva – uma fina membrana que reveste a parte da frente do globo ocular -, que pode ser causada por bactérias ou vírus, gerando vermelhidão, inchaço e secreção aquosa, mucosa ou purulenta.
- Catarata: opacificação do cristalino, a lente natural dos olhos, que impede a passagem da luz até a retina, prejudicando a visão. É mais comum no envelhecimento e pode acontecer em pessoas com diabetes.
- Glaucoma: doença silenciosa que provoca aumento da pressão intraocular, o que danifica o nervo óptico e pode levar à perda irreversível da visão. O paciente geralmente não sente dor nem percebe sintomas, até que o campo visual comece a se reduzir.
- Degeneração macular relacionada à idade (DMRI): doença progressiva que afeta a mácula, região da retina responsável pela visão central e detalhada. É uma das principais causas de perda de visão após os 60 anos. Pode ser do tipo seca (mais comum e de evolução lenta) ou úmida (mais agressiva).
- Síndrome do olho seco: caracterizada por uma disfunção do canal lacrimal, levando à secura, ardência, visão embaçada e sensação de corpo estranho nos olhos. A condição afeta 1 a cada 7 pessoas com 48 anos ou mais e parece ter origem em fatores ambientais, hormonais ou doenças autoimunes.
- Retinopatia diabética: complicação do diabetes, que compromete os vasos sanguíneos da retina. Nos estágios iniciais, a doença geralmente não apresenta sintomas. No entanto, quando evolui para formas mais graves, pode causar perda da visão.
Quando devem começar os cuidados com a saúde ocular?
A atenção à saúde dos olhos deve começar o mais cedo possível. Assim que o bebê nasce, é realizado o teste do olhinho (ou reflexo vermelho), um exame rápido, indolor e fundamental para detectar precocemente problemas de visão graves como catarata congênita, glaucoma e retinoblastoma. Essa triagem inicial é crucial para garantir um desenvolvimento visual saudável desde o início da vida.
Com o crescimento da criança, o acompanhamento oftalmológico se torna ainda mais importante. A Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO) recomenda a primeira consulta entre 6 meses e 1 ano, seguida de uma reavaliação entre os 3 e 5 anos, preferencialmente aos 3, fase em que o sistema visual está em pleno desenvolvimento e eventuais distúrbios podem surgir.
Na infância e adolescência, consultas regulares ajudam a identificar e corrigir alterações visuais que podem interferir no aprendizado e na qualidade de vida. Problemas como miopia, hipermetropia e astigmatismo, quando diagnosticados cedo, podem ser facilmente corrigidos com o uso de óculos.
Na vida adulta, os cuidados devem ser mantidos com avaliações periódicas que examinem não apenas a visão, mas também estruturas internas como a retina, o nervo óptico e a pressão intraocular. Isso permite a detecção de doenças silenciosas, como o glaucoma, e contribui para a preservação da saúde ocular ao longo da vida.
Como cuidar da saúde ocular?
Pequenas escolhas e mudanças na rotina fazem toda a diferença para preservar a saúde dos olhos e ter uma boa visão. Veja algumas delas e como praticá-las no dia a dia:
Mantenha um estilo de vida saudável
Praticar exercícios físicos, passar mais tempo ao ar livre e reduzir o uso excessivo de telas são hábitos que beneficiam diretamente os olhos. Além disso, manter uma rotina ativa ajuda a prevenir doenças como diabetes e hipertensão, que podem ser fatores de risco para complicações oculares.
A alimentação também tem um papel importante na visão. Estudos indicam que alimentos ricos em antioxidantes — nutrientes presentes em frutas, verduras e legumes — ajudam a proteger as estruturas oculares contra os danos causados pelos radicais livres.
A exposição frequente à luz azul e à radiação UV pode aumentar a produção dessas moléculas e, por isso, é essencial manter um bom consumo de antioxidantes, seja por meio da dieta ou da suplementação.
Durma bem
Entre os cuidados com os olhos que você deve ter, está dormir bem. Assim como o corpo, a visão precisa descansar para se recuperar do esforço do dia a dia. Dormir bem pode ajudar a reduzir a fadiga visual e diminuir o risco de sintomas como vermelhidão, coceira e sensação de olhos cansados.
Quando recomendado, use óculos de grau regularmente
Quando houver recomendação médica, é essencial usar os óculos de grau de forma correta e regular, com lentes de qualidade. Isso evita o esforço excessivo dos olhos, previne dores de cabeça, cansaço visual e ajuda a impedir a piora da visão ao longo do tempo.
Compareça ao oftalmologista
Consultar um oftalmologista regularmente é fundamental para manter a saúde ocular em dia. O ideal é realizar uma avaliação ao menos uma vez por ano. No entanto, se surgirem sintomas como visão embaçada, dor, vermelhidão ou qualquer incômodo, não espere pela próxima consulta de rotina. Procure o profissional o quanto antes.
Para quem tem condições como diabetes ou hipertensão, o acompanhamento oftalmológico é ainda mais importante, pois essas doenças podem contribuir para o aparecimento de quadros relacionados à visão, se não forem bem controladas.
Adote hábitos específicos para a saúde dos olhos
Pequenos hábitos diários fazem toda a diferença na prevenção de condições e no bem-estar da sua visão. A seguir, reunimos dicas práticas para proteger seus olhos no dia a dia e manter sua saúde ocular como um todo. Confira:
- Use óculos de sol com proteção UV: óculos escuros com lentes certificadas ajudam a evitar os danos causados pela exposição à radiação UV;
- Faça pausas ao usar telas: ficar muito tempo em frente a celulares ou computadores reduz a frequência do piscar, prejudicando a lubrificação natural dos olhos. Faça intervalos regulares durante o uso prolongado de telas;
- Evite coçar os olhos: esse hábito pode causar microlesões na superfície ocular, facilitar a entrada de microrganismos e agravar condições como alergias, comprometendo a saúde ocular a longo prazo;
- Higienize bem as mãos: como costumamos tocar os olhos sem perceber, manter as mãos sempre limpas ajuda a evitar o contato com vírus e bactérias que podem causar infecções;
- Cuide das lentes de contato: se você usa lentes, mantenha uma rotina adequada de higiene para evitar irritações, infecções e outros problemas oculares. Além disso, siga rigorosamente as instruções de uso descritas na embalagem, como o tempo indicado, por exemplo, a fim de evitar possíveis intercorrências;
- Atenção aos cosméticos: produtos aplicados na região dos olhos podem causar reações. Por isso, retire a maquiagem antes de dormir e evite o uso de produtos fora da validade. Em caso de irritação, procure atendimento médico imediatamente;
- Uso excessivo de ar-condicionado: sempre que possível, evite ficar em ambientes com ar-condicionado por longos períodos, já que ele pode ressecar os olhos.
Quais ativos podem ser importantes para a saúde ocular?
A saúde dos olhos depende não só de bons hábitos no dia a dia, mas também de uma nutrição adequada. Diversos compostos naturais têm sido estudados por seu papel na prevenção e no tratamento de doenças oculares. A seguir, veja o que dizem os estudos sobre os principais ativos com potencial para proteger e fortalecer a visão ao longo da vida.
Astaxantina
A astaxantina é uma substância natural de cor vermelha, presente em algas, em crustáceos, como o krill, e em alimentos como salmão, camarão e lagosta. Ela pertence à família dos carotenoides, os mesmos que dão cor à cenoura.
Estudos mostram que a astaxantina pode ajudar na prevenção e no tratamento de doenças oculares, como problemas da retina, distúrbios da superfície ocular, uveítes (inflamação da úvea, a camada vascular do olho), catarata e fadiga ocular. Isso se deve principalmente a sua potente ação no combate aos radicais livres, além de contribuir para a redução da inflamação e para o melhor funcionamento do sistema imune, ajudando a restaurar o equilíbrio celular.
Ômega-3
A ciência tem explorado o papel dos ácidos graxos ômega-3 para os olhos, principalmente em pessoas que passam muito tempo em frente a telas ou têm problemas como olho seco e miopia.
No caso da síndrome do olho seco, um estudo mostrou que o ômega-3 pode ajudar a aliviar os sintomas. Os participantes que ingeriram o suplemento apresentaram melhora nos sintomas da condição e em indicadores da produção e qualidade da lágrima e filme lacrimal. Esses benefícios não foram observados nos indivíduos que receberam placebo, e os efeitos foram mais evidentes em indivíduos com baixos níveis de ômega-3 no início do estudo.
Em relação à miopia, evidências experimentais indicam que o uso diário de ômega-3 (DHA e EPA) ajuda a reduzir o avanço da condição em animais. Esse efeito veio acompanhado de uma melhora na circulação sanguínea em uma área importante do olho chamada coroide, que, quando pouco irrigada, pode piorar a miopia.
Coenzima Q10
A Coenzima Q10 é um nutriente que atua na produção de energia e no combate a inflamações. É produzida pelo organismo, mas também pode ser adquirida pela alimentação ou suplementação. Ela também tem ação antioxidante, ou seja, ajuda a proteger as células contra danos oxidativos.
Pesquisas mostraram que a Coenzima Q10 pode proteger as células dos olhos afetadas pelo glaucoma. Em testes com colírios e suplementos, a substância ajudou a manter essas células vivas, melhorou o funcionamento da retina e até fortaleceu a resposta visual do cérebro. Em um estudo com humanos, a oferta de CoQ10 em associação à vitamina E em pacientes com glaucoma trouxe benefícios na função da retina interna e melhora nas respostas do córtex visual, área cerebral que processa informações visuais.
Vitamina A
A vitamina A é muito importante para a visão e saúde dos olhos. Estudos indicam que ela ajuda a manter a superfície dos olhos saudável, participa do processo da visão — especialmente à noite — e fortalece as defesas do corpo contra infecções.
Quando falta vitamina A no organismo, a pessoa pode começar a enxergar mal no escuro (cegueira noturna) e, com o tempo, se a deficiência não for corrigida, problemas mais sérios nos olhos podem surgir, como ressecamento, feridas na córnea e até cegueira. Isso é mais comum em situações de desnutrição grave, mas o déficit de vitamina A também pode acontecer em pessoas com condições gastrointestinais que dificultam a absorção de nutrientes, como fibrose cística ou que fizeram cirurgia bariátrica.
A boa notícia é que a suplementação com vitamina A, quando feita a tempo, pode melhorar esses quadros e proteger a visão. Ela também ajuda a hidratar os olhos, melhora a qualidade da lágrima e até reduz inflamações em casos de olho seco e outras doenças oculares.
Luteína
A luteína também é um tipo de carotenoide e se acumula em grande quantidade na mácula — uma parte importante da retina. Como o corpo humano não produz luteína por conta própria, ela precisa ser obtida por meio da alimentação, especialmente de vegetais verde-escuros e gema de ovo.
As evidências mostram que a luteína e a zeaxantina (isômero da luteína) têm um papel importante na saúde dos olhos desde a gestação até a terceira idade. Eles participam do desenvolvimento ocular, na qualidade da visão ao longo da vida e na prevenção de doenças oculares relacionadas ao envelhecimento.
Diversos estudos indicam que a luteína tem ação antioxidante e anti-inflamatória, o que pode ajudar a proteger os olhos e reduzir o risco de doenças como degeneração macular relacionada à idade, retinopatia diabética, miopia, catarata, entre outras.
Resveratrol
O resveratrol, um antioxidante presente em uvas e alguns frutos vermelhos, tem chamado atenção como possível aliado na proteção contra algumas condições dos olhos, como degeneração macular relacionada à idade, glaucoma, catarata e retinopatias.
Estudos mostram que o resveratrol pode atuar em diferentes etapas dessas doenças, ajudando a combater o estresse oxidativo, a inflamação e até a influenciar mecanismos de proteção celular.
Citicolina
A citicolina, citada em estudos por seus efeitos neuroprotetores em doenças como Alzheimer e Parkinson, também vem ganhando destaque no cuidado de doenças oculares neurodegenerativas, como o glaucoma. Por atuar em múltiplas vias metabólicas ligadas à transmissão visual, ela mostra potencial para preservar a função e a estrutura ocular, de acordo com as evidências.
Em uma pesquisa com pacientes com glaucoma, o uso do colírio de citicolina juntamente ao tratamento padrão reduziu a progressão da doença em comparação ao placebo — mesmo com a pressão intraocular já controlada em todos os participantes.
Além de apresentar ação importante na saúde ocular, esse nutriente atua em diversas funções cerebrais. Siga no blog e confira o que as pesquisas destacam sobre os efeitos da citicolina para a saúde.