O TDAH é uma sigla muito falada nos últimos tempos e que tem impulsionado inúmeras pesquisas sobre o tema. Estima-se que já tenham sido publicados cerca de 10 mil artigos científicos relacionados às características, às abordagens e ao tratamento do TDAH. Mas você sabe o que é o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade?
Neste conteúdo vamos te contar o que é o TDAH, quais seus principais sintomas e causas, como realizar o tratamento adequado e, especialmente, te dar dicas essenciais para viver bem com essa condição. Confira!
O que é o TDAH?
O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade – TDAH é um transtorno neurobiológico que pode afetar crianças e adultos.
De acordo com a Associação Brasileira do Déficit de Atenção – ABDA, esse quadro é considerado um dos mais comuns entre crianças e adolescentes, afetando de 3 a 5% das crianças em diversas regiões do mundo.
O TDAH é caracterizado por alterações na região frontal do cérebro e suas conexões. Ou seja, é uma condição que altera o funcionamento de neurotransmissores importantes, principalmente dopamina e noradrenalina, que passam informações entre os neurônios.
Essas alterações, por sua vez, podem gerar uma série de impactos na vida do indivíduo, sendo os principais: episódios recorrentes de desatenção, inquietação e impulsividade.
É importante destacar que os estudos acerca do tema ainda não conseguem definir, de fato, quando essa condição começa. Algumas evidências mostram que talvez possa existir dois transtornos diferentes, um que se desenvolve desde a infância e outro que surge apenas na fase adulta. Por ser uma temática atual, mais análises são necessárias.
Quais as causas do TDAH?
De acordo com evidências da literatura, o TDAH pode ser multifatorial, apresentando como prováveis causas uma mistura entre o fator genético e os fatores ambientais.
Genético
Com relação ao fator genético, os estudos mostram que o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade pode ser passado hereditariamente, ou seja, as chances de desenvolver a doença quando há parentes de primeiro grau já diagnosticados na família é maior.
Ambiental
Junto com isso, alguns fatores ambientais também demonstram alguma influência, visto que já foram associados à doença em estudos. Dentre eles, podemos citar:
- Uso de substâncias tóxicas, como álcool, drogas e medicamentos, durante a gestação;
- Prematuridade;
- Baixo peso ao nascer;
- Sofrimento fetal.
Para analisar esses fatores correlacionados, mais investigações são necessárias a fim de avaliar o nível real de prevalência e causalidade isolada entre eles. Apesar disso, é importante mencionar que o diagnóstico e o tratamento são baseados nas características clínicas, independentemente das causas.
Quais os tipos de TDAH?
O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade é comumente classificado entre 3 diferentes tipos: desatenção, hiperatividade-impulsividade e combinado. No entanto, atualmente entende-se que a nomenclatura correta a se usar é “apresentações” ao invés de tipos de TDAH.
Essa mudança se dá em razão das novas evidências que mostram que o indivíduo pode transitar entre essas diferentes classificações ao longo da vida, ou seja, não havendo um determinado tipo de TDAH para cada pessoa, mas, sim, diferentes fases. Entenda as principais características dessas apresentações:
- Desatenção: caracterizada pela dificuldade de manter a atenção e organizar tarefas. O indivíduo pode apresentar sintomas relacionados à desatenção, porém, sem sintomas de hiperatividade;
- Hiperatividade-impulsividade: como o próprio nome já diz, está relacionada a sintomas de inquietude e pode ser caracterizado por pessoas que não conseguem controlar os seus impulsos;
- Combinado: diz respeito à junção das apresentações anteriores, que é quando o indivíduo manifesta seis ou mais características de desatenção e de hiperatividade.
Quais os sintomas de TDAH?
Segundo a ABDA os sintomas do TDAH podem ser diferentes entre as crianças e os adultos. Dentre os principais em cada grupo, podemos citar:
Sintomas de TDAH em crianças e adolescentes:
- Desatenção;
- Dificuldades de aprendizagem na escola;
- Problemas de comportamento;
- Dificuldade para seguir regras e respeitar limites.
Sintomas de TDAH em adultos:
- Dificuldade em organizar e planejar tarefas do dia a dia;
- Desatenção com demandas do cotidiano e do trabalho;
- Problemas de memória;
- Inquietude;
- Impulsividade;
- Dificuldade em avaliar o próprio comportamento e em como afeta os demais à sua volta;
- Alta probabilidade de apresentar problemas associados, como uso de drogas e álcool, além de outras condições psicológicas como ansiedade e depressão.
Como identificar?
Para identificar se você possui ou não TDAH é imprescindível recorrer a uma consulta médica. O diagnóstico deve ser feito por um médico especializado (psiquiatra, neurologista ou neuropediatra) por meio de uma anamnese, entrevista realizada entre o profissional e o paciente.
Essa entrevista é apenas a primeira etapa, pois a avaliação do caso é algo que demanda uma longa e complexa análise. É preciso que o médico identifique quais os impactos que os sintomas relatados pelo paciente podem gerar na sua vida pessoal, profissional ou escolar.
E que também consiga distinguir as queixas apresentadas de outras condições psicológicas, já que é comum a correlação do TDAH com a ansiedade, a depressão e até mesmo o Transtorno do Espectro Autista, por exemplo.
Ainda, é fundamental que o paciente tenha cautela com as informações encontradas na Internet ou no seu círculo social a respeito do TDAH para evitar um autodiagnóstico equivocado.
Quais as principais formas de tratamento do TDAH?
O TDAH é uma patologia e, por isso, seu tratamento deve ser feito primordialmente com o acompanhamento de um profissional de saúde especializado. Geralmente, é feita uma combinação entre psicoterapia, realizada por um psicólogo, com o atendimento psiquiátrico. Quando necessário, a utilização de medicamentos também entra em cena.
Além disso, a adoção de um estilo de vida saudável pode ser destacada como um importante adjuvante no processo de atenuação dos sintomas. Entenda melhor:
Acompanhamento psicológico
O acompanhamento psicológico é uma etapa importante no tratamento do TDAH, sendo a abordagem Terapia Cognitivo-Comportamental – TCC a mais indicada de acordo com os estudos.
Essa é uma abordagem que busca reestruturar os padrões negativos de comportamento e emoções do indivíduo, promovendo o entendimento de que uma mesma situação pode ser compreendida de diferentes maneiras. Podem ser aplicadas uma variedade de técnicas que ajudam o paciente a criar métodos eficazes para lidar com esses padrões no cotidiano.
Medicamentos
A recomendação do uso de medicamentos pode ser feita ou não, e isso vai depender do quadro e da necessidade de cada paciente. Quando necessário, podem ser recomendados psicoestimulantes ou antidepressivos durante algumas fases do tratamento.
Mudanças no estilo de vida
Os hábitos saudáveis podem ser bons aliados no tratamento do TDAH. Como se sabe, manter uma alimentação saudável, rica em vitaminas, aminoácidos, fibras e minerais, junto com a realização regular de atividade física e o consumo adequado de água é essencial para a saúde física e mental.
As pesquisas mostram, inclusive, que hábitos alimentares do tipo ocidental, caracterizados pelo consumo excessivo de carne vermelha, gorduras, açúcares refinados e sódio, são associados ao diagnóstico de TDAH em adolescentes. Esses indivíduos apresentaram 1,2 vezes mais chance de diagnóstico em comparação àqueles que tinham menores scores de padrão alimentar ocidental.
Por essa razão, fica evidente a necessidade de uma alimentação mais balanceada, rica em nutrientes, junto com o cuidado constante da saúde em geral antes e durante o tratamento do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade.
Como viver bem com TDAH
O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade é uma condição neurológica crônica. No entanto, conviver bem com a doença é possível, e algumas atitudes do cotidiano podem facilitar o manejo dessa condição no dia a dia.
Lembrando, é claro, que nenhuma dessas ações exclui a necessidade de orientação e acompanhamento com o profissional de saúde especializado para o caso. Veja quais alternativas podem ser complementares ao tratamento:
Pratique exercícios físicos
Uma revisão explorou os efeitos do exercício físico em crianças e adultos com TDAH, e, apesar da escassez de estudos até o momento, os resultados são promissores. A prática regular de atividade física pode ser benéfica em alguns sintomas da doença, já que tem impactos positivos nas funções psicológicas e cognitivas. O destaque foi para os exercícios cardiovasculares, como caminhada, corrida e spinning, por exemplo.
Esses efeitos são atribuídos ao aumento da excitação e do fluxo sanguíneo no córtex pré-frontal, o que provoca o aumento de neurotransmissores importantes, como a serotonina, e a diminuição de hormônios do estresse. Além disso, o exercício físico do tipo cardiovascular também aumenta outras catecolaminas importantes, como a dopamina, que está reduzida no TDAH.
Por isso, mexer o corpo pode ser uma alternativa importante para quem lida com essa condição e, juntamente com o tratamento, procura ações saudáveis para atenuar os sintomas e melhorar a qualidade de vida de forma geral.
Mantenha uma alimentação equilibrada
Os alimentos que ingerimos diariamente exercem um papel importante na saúde do nosso corpo e da nossa mente. E no caso do TDAH, alguns nutrientes podem ser favoráveis para estimular o desempenho cognitivo e ajudar na redução dos sintomas.
Nutrientes
Um artigo de revisão verificou que a suplementação com micro e macronutrientes, prescrita com base nas deficiências nutricionais individuais, parece ser uma boa alternativa para complementar o tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade em alguns pacientes, já que desempenham mecanismos que, automaticamente, levam a um melhor desempenho cerebral. Entre os nutrientes citados, podemos destacar:
- Ácidos graxos ômega-3;
- Fosfatidilserina;
- Zinco;
- Vitamina D;
- Extratos de plantas;
- Probióticos.
Contudo, mesmo que sejam nutrientes importantes para o organismo e para o cérebro, a prescrição e a orientação de uso devem ser feitas exclusivamente pelo profissional que acompanha o paciente.
Hidratação
Ainda, outro componente importante e que também merece destaque é a água. Uma hidratação adequada pode promover efeitos positivos no cérebro, enquanto a sua falta pode ser altamente prejudicial.
- Saiba mais sobre o impacto da hidratação na saúde do cérebro
Durma bem
Estudos relatam que distúrbios do sono podem ser comuns em pessoas com TDAH. Cerca de 25 a 30% das crianças e 50% dos adultos que possuem essa condição relatam problemas para dormir.
Dentre as principais queixas, é possível citar: despertares noturnos, pesadelos, dificuldade ao acordar, entre outros. Ainda, foi destacado que, concomitantemente, os distúrbios do sono podem acentuar os sintomas do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, ou seja, se tornando um ciclo vicioso.
Em geral, mediante a realização do tratamento adequado, é possível amenizar as queixas relacionadas a uma noite mal dormida. Mas, além disso, existem também algumas estratégias relacionadas à higiene do sono, conjunto de ações para dormir melhor, que podem auxiliar em um sono mais tranquilo e reparador. Confira as dicas:
- Procure ir para a cama todos os dias no mesmo horário;
- Reduza o uso de telas por, pelo menos, 1h antes de dormir;
- Evite o consumo de cafeína à noite;
- Crie um ritual com atividades que te ajudem a relaxar, como tomar um banho morno, beber um chá quentinho, ouvir uma música que te acalma, etc.
Organize os seus compromissos
Por ser comum a dificuldade de se organizar naturalmente, uma das alternativas que ajudam a manter as tarefas diárias em ordem é realizar um planejamento dos seus principais compromissos.
Isso pode ser feito em uma agenda, no celular ou qualquer material que seja de fácil acesso e que possa ser consultado sempre que necessário. Essa estratégia pode ajudar a ter mais controle dos compromissos ao longo do dia, sejam eles relacionados ao trabalho, à escola ou à vida pessoal. Confira algumas dicas de organização que podem te ajudar:
- Não deixe para depois! Para evitar o esquecimento ou a procrastinação de alguma tarefa ou compromisso, realize a atividade imediatamente;
- Faça listas. Anote tudo que for importante, desde tarefas de trabalho, compromissos pessoais, um recado que precisa dar a alguém, ítens que precisa comprar, etc.
- Tenha uma agenda. Tanto no seu próprio celular, quanto uma opção física, ter uma agenda pode ajudar nos momentos de esquecimento a lembrá-lo das atividades estabelecidas em cada dia da semana.
Estabeleça uma rotina
Os esquecimentos e a dificuldade de concentração são características típicas de quem convive com TDAH e, nesse sentido, ter uma rotina desorganizada e sem um fluxo pré-determinado pode ser uma verdadeira armadilha.
Assim como realizar o planejamento por escrito dos seus principais compromissos diários, estabelecer e seguir um padrão todos os dias, desde o acordar até o momento de dormir, ajuda com que as coisas não caiam no esquecimento e que atividades importantes sejam realizadas diariamente.
- Conheça 7 dicas para ter uma rotina saudável e produtiva.
Ter uma rotina estabelecida e um planejamento das suas principais atividades pode ser favorável, inclusive, para que o tratamento do TDAH seja realizado de forma eficiente. Isso, porque evita o esquecimento das consultas e até mesmo o horário de consumir os medicamentos, quando recomendado pelo profissional de saúde.
Como lidar com quem tem TDAH
Conviver com pessoas que têm TDAH pode ser um verdadeiro desafio. No entanto, com algumas estratégias simples é possível se adaptar e lidar com os momentos desafiadores com mais compreensão. Confira as principais dicas que separamos para você:
- Entenda mais sobre o TDAH: estar bem informado sobre o quadro facilita que você compreenda melhor o que a pessoa está passando e entenda sobre os sintomas, as causas e as formas de tratamento;
- Seja paciente e empático: a paciência e a empatia são essenciais para lidar com quem tem TDAH. É importante ser compreensivo e entender que algumas características de comportamento, como a falta de atenção e a impulsividade, não são intencionais;
- Ofereça suporte emocional: o TDAH pode trazer impactos para a autoestima e a autoconfiança de quem vive com a doença, gerando episódios de frustração. Nesses momentos, procure estar presente e demonstrar o seu apoio.
- Forneça feedback construtivo: reconheça os esforços e a evolução da pessoa com TDAH, e procure incentivá-la a continuar melhorando gradativamente;
- Foque nas habilidades e talentos: reconheça e valorize as habilidades e talentos da pessoa com TDAH. Concentre-se em suas capacidades positivas e incentive o seu desenvolvimento.
- Encoraje a busca por tratamento: é fundamental que a pessoa com TDAH seja acompanhada e orientada por profissionais especializados. Por isso, estimule a busca por ajuda profissional e incentive a seguir o tratamento da forma correta.
Por fim, assim como foi especificado anteriormente, é importante também motivar a pessoa a seguir um estilo de vida saudável e buscar por estratégias diárias que possam melhorar a sua qualidade de vida individual e ajudar no convívio em sociedade. Esses recursos são importantes, inclusive, para beneficiar a saúde mental como um todo.
Se você quer saber mais sobre o assunto, leia o nosso conteúdo especial sobre saúde mental e conheça outras dicas para manter o equilíbrio emocional.