O Transtorno do Espectro Autista – TEA é uma condição complexa que envolve diferentes características e níveis de suporte.
Neste conteúdo, você vai entender as principais classificações do TEA, os sintomas mais comuns, possíveis causas, como é feito o diagnóstico e o tratamento dessa condição. Confira!
O que é o Transtorno do Espectro Autista?
O Transtorno do Espectro Autista é uma condição neuropsiquiátrica que afeta o desenvolvimento neural, reduzindo a formação de sinapses e mielinização, aspectos envolvidos na conexão entre células nervosas e neurônios.
O TEA tem início nos primeiros anos de vida e é caracterizado por algum grau de comprometimento no comportamento social, na comunicação e na linguagem, além de padrões repetitivos e alta sensibilidade sensorial.
Essa condição apresenta classificações distintas e pode estar atrelada ao aparecimento de outras comorbidades relacionadas à saúde mental, fazendo com que o acompanhamento regular seja essencial desde o início do diagnóstico.
Qual a diferença entre TEA e autismo?
A diferença entre TEA e autismo está na forma como os termos são usados e em sua abrangência. O autismo no passado era visto como uma condição única.
Já o Transtorno do Espectro Autista é um conceito mais recente e abrangente, que inclui os diferentes graus de manifestações do autismo. O TEA reconhece que o autismo é um espectro com classificações distintas, indo desde formas mais leves até casos mais severos, destacando a individualidade de cada caso.
O que causa o Transtorno do Espectro Autista?
As causas exatas do TEA ainda não são totalmente compreendidas, mas as pesquisas apontam para uma possível combinação de fatores genéticos e ambientais.
Diversos genes e variações genéticas mostraram associação com o desenvolvimento do TEA, mas não há um único gene responsável pelo aparecimento do quadro. A hereditariedade é citada como um forte componente para o surgimento dessa condição, indicando que quando há um filho com TEA, há a possibilidade de que o próximo filho também tenha.
Com relação aos fatores ambientais, os estudos destacam que diversos aspectos pré-natais, perinatais, gestacionais, dietéticos e de estilo de vida dos pais parecem ser fatores de risco. Confira os principais que são citados:
- Maior idade parental, principalmente paterna;
- Infecções durante a gravidez;
- Efeitos hormonais intrauterinos extremos, principalmente relacionados à testosterona;
- Má qualidade da alimentação materna;
- Exposição a substâncias tóxicas durante a gestação (cigarro, metais pesados e poluição, por exemplo);
- Complicações perinatais, como anormalidades do cordão umbilical, aspiração do líquido amniótico de mecônio, baixo peso ao nascer, entre outros.
Quais os principais sintomas do Transtorno do Espectro Autista?
Os sintomas do Transtorno do Espectro Autista variam amplamente entre indivíduos, tanto em quais podem ser detectados quanto na intensidade em que se manifestam. Entenda os principais:
- Dificuldade em estabelecer e manter conversas;
- Ausência ou atraso na fala;
- Dificuldade em interpretar gestos, expressões faciais e tom de voz;
- Dificuldade em fazer amigos ou em entender as normas sociais;
- Falta de interesse em brincar ou interagir com outras crianças;
- Dificuldade em manter contato visual durante conversas ou interações sociais;
- Movimentos repetitivos, como balançar o corpo, bater as mãos ou girar objetos repetidamente;
- Forte insistência em seguir rotinas específicas e resistência a mudanças;
- Hipersensibilidade a sons, luzes, cheiros, texturas ou sabores;
- Dificuldades na coordenação motora.
Esses sintomas geralmente aparecem na primeira infância, embora possam não ser claramente reconhecidos dependendo da intensidade com que se manifestam.
A intervenção precoce e o suporte adequado podem ajudar a melhorar as habilidades sociais, comunicativas e de comportamento de pessoas com TEA.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um processo abrangente no qual o pediatra e/ou médicos especializados avaliam, fazem o diagnóstico e conduzem para uma equipe interdisciplinar que atuará nos comportamentos e dificuldades nas áreas de comunicação, interação social e padrões repetitivos.
Inicia-se com a observação dos sintomas, geralmente notados pelos pais, cuidadores ou professores, e por uma avaliação profissional na qual são aplicados questionários específicos para o diagnóstico desse quadro.
Como o Transtorno do Espectro Autista é classificado?
Anteriormente, o TEA era subdividido em autismo clássico, síndrome de Asperger e Distúrbio global do desenvolvimento sem outra especificação (DGD-SOE). Atualmente, entende-se que essas classificações estão agrupadas dentro do termo Transtorno do Espectro Autista.
Com isso, agora os portadores desse transtorno são avaliados com base em duas classificações principais:
- Déficits na comunicação e interação social: dificuldade em fazer amizade e manter relações e dificuldade de comunicação verbal e não verbal, por exemplo.
- Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesse ou atividade: movimentos corporais repetitivos, insistência em seguir uma rotina, interesses restritos, etc.
Níveis de suporte
A partir desses dois domínios, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) define três níveis de suporte para o TEA baseados na intensidade de assistência necessária de acordo com as limitações de cada indivíduo:
Nível 1 – Necessita de apoio
Está relacionado àqueles que possuem habilidades de comunicação funcional, mas que apresentam alguma dificuldade em interações sociais e padrões de comportamento restritos e repetitivos leves que podem interferir na rotina.
Assim, necessitam de suporte moderado para ajudar na organização e no planejamento de tarefas diárias e para facilitar a socialização em certos ambientes como na escola ou no local de trabalho.
Nível 2 – Necessita de apoio substancial
Indivíduos no nível 2 têm maior dificuldade em se comunicar verbalmente ou não verbalmente e as interações sociais são mais limitadas. Além disso, os comportamentos restritos e repetitivos podem se mostrar mais intensos, impactando de forma mais significativa as atividades do cotidiano.
Pode ser necessário apoio para socializar, para lidar com situações de mudança e com atividades que envolvam múltiplas etapas.
Nível 3 – Necessita de apoio muito substancial
Indivíduos nesse nível têm dificuldades graves de comunicação e podem ser não-verbais ou ter uma fala extremamente limitada. A interação social é mínima e os comportamentos restritos e repetitivos são severos.
Por isso, requerem suporte intensivo para realizar quase todas as atividades diárias. Esse suporte pode incluir assistência constante para cuidados pessoais, necessidade de adequação em ambientes de trabalho ou escolar e suporte contínuo para lidar com mudanças.
Como é o tratamento do Transtorno do Espectro Autista?
O tratamento do TEA é realizado combinando terapias comportamentais, ocupacionais, fonoaudiologia e fisioterapia, além do médico e nutricionista, com o intuito de intervir e melhorar as habilidades sociais, de comunicação e motoras.
Medicamentos também podem ser usados para sintomas específicos, como irritabilidade e ansiedade, por exemplo, a depender de cada caso e da avaliação dos profissionais de saúde que fazem o acompanhamento.
Além disso, é necessário um olhar abrangente ao paciente. O transtorno do espectro autista, além dos sintomas comuns, traz implicações na nutrição, no metabolismo, no sono e na saúde intestinal. Por isso, é fundamental incluir estratégias relacionadas ao estilo de vida que possam servir de suporte ao tratamento convencional. Isso inclui:
Ajustes na alimentação
A alimentação de pessoas com TEA costuma ser um desafio, principalmente por causa da seletividade alimentar, que é comum em indivíduos com essa condição. Nesse caso, o acompanhamento com um nutricionista especializado em transtorno do espectro autista se torna fundamental.
Além disso, podem haver dificuldades na digestão e na absorção de nutrientes, bem como alergias alimentares. Esses fatores, junto com a seletividade alimentar, contribuem para uma alimentação insatisfatória e o surgimento de deficiências nutricionais.
Por isso, as evidências mostram que apostar na adoção de uma dieta equilibrada e bem planejada, de acordo com as necessidades de cada pessoa, faz toda a diferença durante o tratamento. Principalmente para garantir o aporte necessário de micronutrientes que é essencial para o funcionamento adequado do organismo.
É citado também que muitas vezes é preciso evitar alimentos que podem causar inflamações, desconfortos ou alergias, e reduzir significativamente o consumo de açúcar, pois além de afetar o comportamento neurológico, ele pode piorar o desequilíbrio da flora intestinal.
Quando necessário, optar por dietas específicas, como a cetogênica (com baixo consumo de carboidratos), pode trazer benefícios. Entretanto, por se tratar de um estilo alimentar restritivo, é indispensável o acompanhamento de um profissional de saúde.
Cuidado com a saúde intestinal
De acordo com a ciência, a microbiota intestinal (conjunto de microrganismos que vivem no intestino) das pessoas com TEA pode ser diferente da observada em indivíduos sem a condição. Já foi identificada a redução de bactérias benéficas, como bifidobacterium e lactobacillus, e aumento de bactérias prejudiciais, como Clostridia e Ruminococcus, bem como maior presença de fungos.
Essas alterações podem desencadear a disbiose intestinal (desequilíbrio entre os tipos e números de microrganismos da microbiota), aumentando a permeabilidade do intestino e permitindo a passagem de substâncias nocivas para a corrente sanguínea. Essas substâncias podem, inclusive, chegar ao sistema nervoso e estão associadas a inflamações e distúrbios no funcionamento cerebral, o que pode intensificar os sintomas do TEA.
Com isso, a prevenção e o tratamento da disbiose, bem como um cuidado integral com a saúde do intestino, são essenciais no manejo do TEA. Nesse sentido, o aumento do consumo de probióticos, prebióticos e fibras, seja por meio da alimentação ou da suplementação, quando recomendada pelo médico, pode ser uma alternativa eficaz.
Melhora da qualidade do sono
Os resultados de diferentes estudos citam que pessoas com transtorno do espectro autista comumente apresentam dificuldades para dormir, despertares noturnos e sono de curta duração. Apesar de ainda não se saber a causa específica, especula-se que esteja relacionada a alterações no relógio biológico e na produção de melatonina.
Por conta disso, torna-se parte do tratamento o cuidado com um sono de qualidade, pois os distúrbios do sono podem estar associados à gravidade dos sintomas do TEA. Dentre as estratégias estudadas, o uso de suplementos de melatonina se destaca nesse contexto.
Um estudo comparou o uso de melatonina de liberação prolongada para crianças com um placebo, em pessoas com transtorno do espectro autista que tinham problemas de sono. Os resultados revelaram que aqueles que usaram a melatonina tiveram melhora no tempo total de sono, além da diminuição do tempo necessário para adormecer.
Redução da carga tóxica
Estudos mostram que crianças com TEA apresentam maior acúmulo de alguns metais pesados no organismo, além de maior dificuldade em eliminá-los naturalmente. A principal justificativa está atrelada a uma menor capacidade antioxidante, algo característico de pessoas com a condição.
Acontece que a exposição demasiada e prolongada a esses metais pesados pode trazer prejuízos à saúde, estando relacionada ao estresse oxidativo, à inflamação e a danos neuronais, fatores associados ao transtorno do espectro autista. Por esse motivo, uma das estratégias que deve estar atrelada ao tratamento convencional é a redução da carga tóxica, diminuindo a exposição diária às toxinas por meio de atitudes como:
- Preferir cosméticos e outros produtos livres de substâncias potencialmente tóxicas (parabenos, ftalatos e fragrâncias, por exemplo);
- Praticar atividades ao ar livre em locais e horários de menor tráfego para evitar o contato excessivo com a poluição;
- Optar por recipientes de vidro ou materiais livres de BPA na composição (“BPA free”);
- Verificar a procedência da água e instalar filtros nas torneiras de casa;
- Dar preferência ao consumo de alimentos frescos e orgânicos;
- Evitar o consumo de alimentos ultraprocessados, que são ricos em aditivos químicos (corantes, conservantes e emulsificantes);
- Realizar a quelação de metais pesados, quando recomendado pelo médico que acompanha o paciente.
Uso de suplementação, quando recomendado
As evidências mostram que crianças com TEA apresentam alterações metabólicas e nutricionais que favorecem a deficiência de diversos nutrientes, além de altos níveis de estresse oxidativo. Ainda, a seletividade e a monotonia alimentar são comuns nesse contexto, podendo levar à ingestão insuficiente de vários nutrientes e, consequentemente, a carências nutricionais.
Dessa forma, entende-se que é importante um olhar atento para o papel das vitaminas e dos minerais como parte do tratamento e no controle dos sintomas. A suplementação, por sua vez, pode ser uma alternativa para essa questão. É o que foi destacado em um estudo que avaliou os efeitos de um suplemento formulado com diversas vitaminas e minerais ofertado a 141 pessoas (adultos e crianças) com Transtorno do Espectro Autista pelo período de 3 meses.
Os resultados mostraram um aumento nos níveis de vitaminas e minerais importantes, além de uma melhoria significativa na produção de energia e na capacidade antioxidante desses indivíduos, com redução do estresse oxidativo. Ainda, o grupo que recebeu o suplemento apresentou progresso também em aspectos como comportamento, aprendizado e bem-estar geral. Entretanto, é fundamental destacar que o uso de suplementação deve ser feito apenas mediante recomendação do profissional de saúde que acompanha o caso.
Terapias alternativas
Além das demais estratégias, as terapias alternativas também podem ser boas aliadas ao tratamento do TEA.
Dentre elas, estudos mostram que aulas de artes marciais têm potencial para melhorar o comportamento, as habilidades motoras e a interação social de crianças com o transtorno. Por conta da combinação entre movimento, regras e brincadeira, essas atividades ajudam no neurodesenvolvimento, na organização do pensamento e na função motora.
Além das artes marciais, outros exercícios também parecem oferecer benefícios importantes. As evidências apontam que praticar atividade física regularmente ajuda a melhorar a interação social e a reduzir comportamentos repetitivos. Também, participar de esportes em grupo estimula habilidades sociais, atenção, contato visual e comunicação, além de favorecer o desenvolvimento cerebral.
Ainda, há pesquisas que mostram também os efeitos da musicoterapia no transtorno do espectro autista. A ciência destaca que a combinação dessa prática, que mistura arte com saúde, com outros tratamentos convencionais pode ajudar a melhorar a comunicação, as habilidades sociais, a expressão emocional e outros sintomas em crianças com TEA.
Como lidar com o Transtorno do Espectro Autista?
O primeiro passo é sempre recorrer ao tratamento especializado, pois quanto antes o acompanhamento for iniciado, melhor será a evolução das habilidades cognitivas e comportamentais da pessoa com TEA.
Ainda, é importante mencionar que lidar com o Transtorno do Espectro Autista nos contextos familiar e educacional requer compreensão, paciência e adaptação. É fundamental que os familiares e professores se informem sobre essa condição para entender melhor as necessidades e os desafios enfrentados diariamente.
O acompanhamento contínuo do desenvolvimento cognitivo desempenha um papel crucial no progresso da criança, ajudando a identificar áreas de maior necessidade e potencial de aprimoramento. Se você deseja entender mais sobre esse assunto, siga no blog e confira o conteúdo sobre desenvolvimento cognitivo infantil.





