Um novo estudo pode ajudar a explicar por que a tolerância à glicose – a capacidade para regular os níveis de açúcar no sangue – é menor no jantar do que no café da manhã para as pessoas saudáveis, e por que os trabalhadores por turnos* estão em maior risco de apresentar diabetes.
O estudo, altamente controlado, com a participação de 14 indivíduos saudáveis contou com uma equipe liderada por pesquisadores da Harvard – filiada do Brigham and Women’s Hospital (BWH), mediu as influências independentes que fatores comportamentais (horário das refeições, sono/vigília, dentre outros), o relógio interno do corpo (sistema circadiano), e as divergências entre estes dois componentes tiveram sobre a capacidade de uma pessoa controlar os níveis de açúcar no sangue. A equipe relata suas descobertas – com implicações para os trabalhadores por turnos e para o público em geral, no Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
“Nosso estudo ressalta que não é apenas o que você come, mas também quando você come que influencia grandemente a regulação do açúcar no sangue, e que isso tem consequências importantes à saúde”, disse o coautor correspondente Frank Scheer, neurocientista associado da Harvard Medical School (HMS) e professor assistente de medicina da Divisão de Desordens do Sono e Ritmo Circadiano e Departamentos de Medicina e Neurologia na BWH. “Nossos resultados sugerem que o sistema circadiano afeta fortemente a tolerância à glicose, independente da alimentação/jejum e ciclos de sono e vigília.”
No novo estudo, liderado por Scheer e coautor correspondente Christopher Morris, os participantes participaram de dois protocolos. No primeiro, receberam a sua primeira refeição do dia (“café da manhã”) às 8h e sua última refeição do dia (“jantar”) às 20 horas e dormiram de noite. Na segunda, os seus horários foram revertidos em 12 horas, com o café da manhã às 20h e jantar às 8 da manhã, sendo programados para dormir durante o dia. As refeições foram idênticas. A equipe mediu os níveis de glicose e insulina em intervalos de 10 minutos após cada refeição e de hora em hora durante todo o ciclo sono/vigília, entre uma série de outros hormônios.
A equipe descobriu que os níveis de glicose após as refeições foram 17 por cento mais elevados (ou seja, menor tolerância à glicose) à noite do que de manhã, independente de quando um participante dormia ou tinha suas refeições. Eles também descobriram que o trabalho noturno simulado (dormindo durante o dia, tomando café da manhã às 20h, etc.), reduziu a tolerância à glicose. Esse fenômeno, que os pesquisadores chamam de “desalinhamento circadiano” pode ter implicações importantes para os trabalhadores por turnos.
“Esses dois efeitos parecem ser mediados, pelo menos em parte, por dois mecanismos diferentes relacionados com a insulina,” disse Morris. Uma queda regulada no ritmo circadiano em resposta à insulina da fase inicial (como uma medida da função das células beta pancreáticas) apareceu para explicar, pelo menos em parte, a diferença entre a tolerância à glicose no período da noite e da manhã. O desalinhamento circadiano, por outro lado, esteve associado com sinais de diminuição de sensibilidade à insulina, mas não há interrupções da resposta à insulina na fase inicial. Os pesquisadores acreditam que os sinais conflituosos do relógio interno central do corpo e o ciclo de comportamento a vários órgãos, tais como o fígado e pâncreas, podem contribuir para esses efeitos de desalinhamento no controle da glicose.
O novo trabalho pode ajudar a equipe e outros a desenvolver e melhorar as estratégias para controlar os níveis de glicose no dia-ativa de pessoas e trabalhadores noturnos. Além de considerar os papéis da dieta e exercício, alguns grupos estão buscando medicamentos que podem ajudar a regular os níveis de açúcar no sangue em trabalhadores por turnos. Scheer, Morris e seus colegas estão se concentrando no papel do horário das refeições.
“Devido ao trabalho noturno nunca deixar de existir, estamos investigando se é possível agendar a ingestão de alimentos para ocorrer em horários mais vantajosos”, disse Scheer, que também é o diretor do Programa de Cronobiologia de Medicina do BWH. “Através de uma melhor compreensão dos fatores-chave que contribuem para alterações na tolerância à glicose, podemos ser capazes de encontrar melhores estratégias para ajudar a mitigar o risco de diabetes para os trabalhadores por turnos.”
*NdT.: O trabalho por turnos não segue o padrão normal e convencional das 8 horas de trabalho diurno, e sim podendo incluir turnos noturnos, trabalho por turnos rotativos, e/ou horas irregulares de trabalho.
Traduzido por Essentia Pharma
Fonte:http://news.harvard.edu/gazette/story/2015/04/you-are-when-you-eat/
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