A depressão é uma doença psicológica que pode afetar todas as faixas etárias. No entanto, de acordo com dados do IBGE, a proporção de depressão em idosos vem aumentando gradativamente no Brasil. A Pesquisa Nacional de Saúde, realizada em 2019, destacou que a doença atinge cerca de 13% da população entre os 60 e 64 anos de idade.
Os fatores que podem levar ao aparecimento dessa condição são diversos. Neste texto, vamos trazer o que pode motivar ou contribuir para o surgimento dos sintomas depressivos, quais os principais sintomas, como lidar e os hábitos que podem ser adjuvantes no manejo da doença. Confira!
Quais fatores estão associados à depressão em idosos?
A depressão em idosos pode surgir em decorrência de fatores biológicos e psicossociais, ou seja, uma série de acontecimentos ou pré-disposições que ajudam a desencadear a doença.
Além disso, alguns hábitos que fazem parte do estilo de vida de cada indivíduo também podem ter grande impacto. Entenda:
Fatores biológicos
Os fatores biológicos são aqueles que estão relacionados a outras comorbidades do idoso, como condições vasculares e cerebrais e doenças crônicas e/ou neurológicas pré-existentes.
Essas condições, em geral, podem ser comuns com o avanço da idade, o que pode favorecer o aparecimento de quadros secundários, como a depressão. Veja os principais fatores biológicos que podem estar associados:
Condições cerebrovasculares
É quando a depressão surge em decorrência de danos nos vasos sanguíneos do cérebro, especialmente quando ocorrem nas áreas frontais ou em suas conexões, devido a pequenas lesões isquêmicas.
O acúmulo de homocisteína também pode danificar os vasos sanguíneos cerebrais e afetar os neurotransmissores, o que contribuiria para o desenvolvimento da condição. Essa acumulação pode acontecer em situações de deficiência de vitaminas B12, B6 e folato, além de condições genéticas.
Doenças crônicas ou neurológicas
Há indícios de que a depressão está associada à doença coronariana, ao diabetes, à obesidade, à hipertensão, ao infarto e até mesmo à artrite, por conta das disfunções físicas e neurológicas que essas condições causam. A Doença de Parkinson também está frequentemente associada ao quadro depressivo devido às mudanças provocadas no cérebro e à influência na produção de dopamina.
Fatores psicossociais
São fatores que evidenciam as variáveis psicológicas e sociais presentes na vida do idoso que podem contribuir para o surgimento de sintomas depressivos. Essas variáveis dizem respeito a uma série de características de personalidade, comportamento e cognição, além de aspectos relacionados ao luto, à solidão e aos eventos estressantes que podem afetar a saúde mental como um todo.
Personalidade
O neuroticismo é um traço de personalidade caracterizado pela tendência a emoções negativas e uma resposta ampliada ao estresse, sendo um preditor significativo de depressão em idosos.
Além disso, transtornos de personalidade, apego inseguro e traços obsessivos também estão associados ao aumento do risco de depressão. Esses fatores podem afetar profundamente o bem-estar emocional dos idosos, influenciando sua capacidade de lidar com os desafios do envelhecimento.
Comportamento
Com relação ao comportamento, pode-se destacar o desamparo aprendido, que é a ideia de que a depressão ocorre quando alguém acha que não pode mudar uma situação ruim. Se uma pessoa acredita que nada do que faz pode melhorar as coisas, ela tende a ficar deprimida.
Idosos muitas vezes enfrentam situações que os fazem sentir assim, como doenças constantes e mudanças na sua vida social. Essas experiências podem levá-los a se sentirem inúteis e sem esperança.
Cognição
Estudos mostram que idosos com depressão apresentam distorções cognitivas. Eles tendem a usar estratégias como ruminação e catastrofização mais do que reavaliação positiva para lidar com sintomas depressivos.
Além disso, idosos deprimidos podem ser mais sensíveis ao feedback negativo, o que pode estar ligado à crença de que são incapazes.
Luto
Para os idosos, experiências de perda são comuns devido ao envelhecimento, e aqueles que internalizam essas emoções negativas têm maior probabilidade de desenvolver depressão. Há pesquisas que relacionam o luto, como a perda do cônjuge, com sintomas depressivos significativos.
Isolamento social e sentimento de solidão
Quando idosos se sentem isolados ou acreditam que não têm apoio suficiente, são maiores as chances de desenvolver sintomas graves de depressão. Um ponto importante é destacar que a qualidade do apoio que recebem é mais importante do que apenas o número de pessoas com quem têm contato. A falta de amigos próximos ou de alguém em quem confiar pode aumentar o risco de pensamentos suicidas, por exemplo.
A solidão é uma sensação que está diretamente relacionada ao isolamento social. Idosos que se sentem sozinhos tendem a ficar mais deprimidos devido à dificuldade de se sentir integrado socialmente ou de ter conexão emocional em suas interações.
Estima-se que a falta de contato com amigos e o sentimento de solidão podem aumentar em até 3,6 vezes o risco de depressão em idosos.
Estressores da vida
Estudos identificaram vários estressores como fatores de risco para transtornos depressivos em idosos. Entre eles estão os acontecimentos adversos na vida, a morte de cônjuge ou de um ente querido, as doenças médicas, as incapacidades e o declínio funcional. A presença de deficiências também demonstrou aumentar o risco de depressão. Ainda, estressores crônicos como renda baixa e menor escolaridade apresentaram grande influência.
Fatores de estilo de vida
O estilo de vida que levamos pode afetar nossa saúde de diversas formas, tanto física como mental. Como já se sabe, hábitos saudáveis são grandes aliados para um organismo saudável e, nesse sentido, o inverso pode resultar em efeitos adversos. Dentre os principais fatores de estilo de vida que podem estar associados à depressão, podemos citar o tabagismo, o uso de álcool, uma alimentação inadequada e o sedentarismo.
Tabagismo
Um estudo feito com idosos observou que aqueles que tinham o hábito de fumar apresentaram 69% maior chance de desenvolver sintomas depressivos em comparação aos não tabagistas.
Álcool
O alto consumo de álcool também é elencado como fator associado à depressão. Dados de uma coorte alemã de idosos mostram que, naqueles com consumo elevado, a taxa de risco de depressão foi significativamente maior do que naqueles que não consumiam.
Alimentação
O consumo adequado de frutas e vegetais está associado à redução dos sintomas depressivos, no entanto, os dados mostram que pessoas com depressão tendem a ingerir menos desses alimentos, o que se torna prejudicial para o manejo da doença.
Em contrapartida, o alto consumo de industrializados, como refrigerantes e doces está associado ao aumento do risco desses sintomas e está ligado a marcadores inflamatórios e doenças metabólicas, como obesidade e diabetes, que também estão associados à depressão.
Nesse sentido, pesquisadores brasileiros verificaram que adultos mais velhos com pior qualidade da dieta – caracterizada por alto consumo semanal de refrigerantes, doces e sucos artificiais – tinham 39% mais chances de depressão em comparação àqueles com melhor qualidade da dieta – maior consumo semanal de frutas e vegetais.
Sedentarismo
A realização de atividade física pode ser um importante adjuvante no tratamento da depressão. Porém, as pesquisas destacam que indivíduos com essa condição tendem a realizar menos exercício, prejudicando uma possível melhora dos sintomas. Ainda, as evidências mostram que o comportamento sedentário está altamente correlacionado com maiores pontuações nas escalas de ansiedade e de depressão em idosos.
Quais os principais sintomas da depressão em idosos?
Os sintomas de depressão em idosos podem ser um pouco diferentes de quando a doença surge na adolescência ou fase adulta, já que está associada a diversos fatores que afetam a vida na idade avançada.
Além disso, na maioria das vezes esses sinais podem estar relacionados com outras condições coexistentes, o que pode dificultar a percepção. Entenda os principais sintomas de depressão em idosos:
- Fadiga matutina;
- Retardo psicomotor;
- Redução da afetividade;
- Inquietação ou nervosismo;
- Ansiedade;
- Alteração do ciclo sono-vigília;
- Alteração do apetite (geralmente relacionado à redução da fome);
- Falta de interesse nas coisas que antes lhe agradavam;
- Perda da capacidade de sentir prazer em situações do cotidiano;
- Distúrbio cognitivo;
- Consumo de álcool frequente de início recente.
Como lidar com a depressão em idosos?
A depressão em idosos pode ser um diagnóstico de difícil aceitação. A idade avançada pode dificultar a compreensão dos sintomas e, principalmente, a associação do que se está sentindo com a possibilidade da depressão.
Nesse momento, o acompanhamento médico e o apoio familiar exercem um papel significativo para lidar com essa condição, seja para ajudar a identificar os sintomas como para incentivar o tratamento adequado.
A importância do acompanhamento médico
Manter um acompanhamento médico regular na idade avançada é essencial para a detecção precoce e o manejo eficaz de diversas condições de saúde, incluindo a depressão. Consultas frequentes permitem que os médicos identifiquem sintomas iniciais, diferenciem a depressão de outras condições e ajustem tratamentos conforme necessário.
Além disso, o monitoramento contínuo de condições crônicas e a realização de exames preventivos ajudam a reduzir a incidência de complicações que podem contribuir para o aparecimento de sintomas depressivos, garantindo uma gestão mais precisa e abrangente da saúde do idoso.
Os médicos também podem fornecer informações valiosas para os idosos e suas famílias sobre a depressão, ensinando estratégias de enfrentamento e envolvendo-os no plano de cuidado. Essa abordagem assegura que os idosos recebam um cuidado completo, promovendo seu bem-estar geral e prolongando sua independência.
O apoio da família e amigos é fundamental
Para lidar com a depressão é essencial que o idoso possa contar com o apoio e acolhimento da sua família e amigos. Esse amparo favorece uma melhor adesão ao tratamento e, ainda, ajuda a reduzir os sintomas depressivos por meio do suporte emocional.
Se você é próximo ou possui um familiar idoso com depressão, veja algumas atitudes que podem ajudar nesse momento:
- Eduque-se sobre a depressão: entenda os sintomas, causas e tratamentos para a depressão em idosos. Isso ajuda a reconhecer sinais e oferece um suporte mais eficaz ao familiar afetado.
- Mostre empatia: seja compreensivo e paciente. Ouça sem julgar e valide os sentimentos do idoso.
- Ofereça apoio emocional constante: esteja presente emocionalmente e fisicamente. A companhia e o apoio podem fazer uma grande diferença.
- Incentive a socialização: motive o idoso a participar de atividades sociais, praticar hobbies e manter o contato com amigos e outros familiares.
- Ajude nas tarefas diárias: ofereça ajuda com tarefas que possam ser difíceis para o idoso, dependendo das suas limitações individuais, como cozinhar, limpar ou fazer compras.
- Facilite o acesso a serviços de saúde: ajude a marcar consultas médicas e se mostre disponível para acompanhá-lo, quando necessário.
- Mantenha sua própria saúde mental: cuidar de alguém com depressão pode ser desgastante e desafiador. Certifique-se de cuidar também da sua própria saúde mental e buscar apoio quando necessário.
- Encontre suporte: grupos de apoio para familiares de pessoas com depressão podem ser uma fonte valiosa de conselhos e encorajamento.
- Considere cuidados especializados: em casos mais graves, pode ser necessário considerar a ajuda de cuidadores profissionais ou serviços de saúde mental especializados.
Como é o tratamento da depressão em idosos?
Assim como para outras faixas etárias, o tratamento da depressão em idosos é realizado mediante acompanhamento médico e psicológico, além do uso de medicamentos antidepressivos, quando necessário.
Além disso, é imprescindível unir essas estratégias com intervenções sociais na vida do idoso, incentivando a adoção de hábitos mais saudáveis, a participação em grupos de apoio e a realização de atividades prazerosas, por exemplo.
Hábitos que ajudam no manejo da depressão em idosos
Junto com o tratamento médico e psicológico adequado, alguns hábitos do cotidiano demonstram ser importantes para lidar com a depressão e até mesmo amenizar os sintomas. Saiba quais são:
Atividade física
Além de beneficiar todo o organismo, a realização de exercícios regularmente é um importante estimulante dos hormônios da felicidade, neurotransmissores capazes de gerar sensação de alegria e bem-estar.
Ainda, estudos sugerem que a prática de atividade física pode influenciar a neurobiologia e neuropsicologia da depressão de várias maneiras. Veja as principais citadas:
- Alterações no fluxo sanguíneo e metabolismo do córtex pré-frontal, região crucial para a atenção e tomada de decisão;
- Efeitos na região subgenual pré-frontal, associada a pensamentos tristes;
- Aumento do metabolismo da glicose em áreas límbicas como a amígdala, envolvida no aprendizado emocional;
- Mudanças na regulação do cortisol.
Foi destacado, também, que idosos deprimidos apresentam alterações neurocognitivas como déficits de memória, de atenção, na velocidade de processamento e nas funções executivas devido a alterações hipocampais e redução de fatores neurotróficos. Nesses casos, o exercício físico parece promover a neurogênese no hipocampo, mecanismo semelhante ao que ocorre com antidepressivos, por exemplo.
Alimentação equilibrada
Não é novidade que uma alimentação equilibrada e rica em nutrientes é essencial para uma vida saudável. As pesquisas mostram que a dieta está diretamente relacionada com a saúde mental.
Enquanto o consumo de bebidas açucaradas e doces é mencionado como um possível fator de risco para a depressão, a ingestão adequada de alimentos nutritivos são destacados como benéficos. Ainda, podemos evidenciar a ação específica de alguns nutrientes para a saúde mental e emocional:
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- Ômega-3: os ácidos graxos ômega-3, com destaque para formulações com maior teor de EPA, têm função significativa na depressão. Devido ao efeito anti-inflamatório, o EPA demonstra benefícios neuroprotetores, melhorando a homeostase neuronal e aumentando os níveis do Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro, proteína importante no crescimento, diferenciação e reparo dos neurônios.
- Vitamina D: a vitamina D, em especial a D3, participa de processos de neuromodulação, neuroproteção e neuroplasticidade do cérebro, desempenhando importantes ações no sistema nervoso central. Sua deficiência, inclusive, é comumente detectada em pacientes com depressão.
- Magnésio: esse mineral possui atuação importante em diversas vias, enzimas, hormônios e neurotransmissores que regulam o humor. Os estudos destacam que esse nutriente parece agir como um complemento aos medicamentos antidepressivos, melhorando a sua ação.
Sono de qualidade
Alterações no sono REM são características marcantes em pessoas com depressão. A relação entre insônia e depressão é complexa e bidirecional, pois os distúrbios do sono podem ser considerados tanto sintomas como a causa de diversas condições mentais como a depressão.
Sabendo disso, é fundamental encontrar estratégias para melhorar as noites de sono, contribuindo para a redução dos sintomas depressivos. Por isso, além de seguir o tratamento e as orientações médicas de forma adequada, é importante também colocar atenção no que é feito antes de ir para cama, entendendo pontos da sua rotina que podem favorecer uma noite bem dormida. Veja algumas dicas simples que podem ajudar a dormir melhor:
- Tome um banho morno antes de ir para a cama;
- Evite o uso de telas próximo ao horário de dormir;
- Deixe o ambiente confortável e com uma temperatura agradável;
- Reduza o consumo de cafeína e evite a ingestão após as 16h.
Gerenciamento do estresse
O estresse é uma reação natural do nosso organismo. No entanto, a exposição frequente a situações estressantes pode gerar diversas alterações físicas e emocionais capazes de intensificar os sintomas da depressão.
Assim, aliviar o estresse do dia a dia é uma habilidade importante para ajudar no manejo da depressão em idosos. Ter momentos de lazer, manter uma rotina organizada e aplicar técnicas de relaxamento são alternativas que parecem simples, mas fazem grande diferença.
- Confira 10 dicas importantes sobre como controlar o estresse e equilibrar as emoções.
Convívio social
Como vimos anteriormente, o isolamento social e a solidão são fatores psicossociais que estão fortemente associados à depressão em idosos. Por esse motivo, podemos entender que cercar-se de boas companhias é importante para manter a saúde mental e, ainda, favorecer uma vida mais longeva e feliz.
A habilidade de manter boas relações foi destacada, inclusive, como um dos principais aspectos que contribui para um envelhecimento saudável, de acordo com um estudo da Universidade de Harvard.
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