Na busca por uma substituição ao açúcar, entraram em cena os adoçantes artificiais com promessas de caloria zero. Contudo, durante anos essa substituição foi dita como perfeita, e as prateleiras dos supermercados tornaram-se repletas de produtos light, diet e ‘sem açúcar’.
Recentemente, pesquisas vêm relacionando o uso de adoçantes artificiais ao aumento de peso corporal – totalmente o inverso da intenção do uso inicial dessas substâncias.
Acompanhe para entender o que a ciência já evidenciou sobre os adoçantes artificiais e veja opções para substituí-los.
O conceito de que o intestino e o cérebro estão intimamente ligados, e que essa interação desempenha um papel importante não só na função gastrointestinal, mas também em certos estados de sentimento, apetite e saciedade, é recente.
Desta forma, percepções neurobiológicas sobre essa conversa cruzada entre o intestino e o cérebro revelaram um complexo sistema de comunicação bidirecional que também garante a manutenção adequada da homeostase gastrointestinal, digestão e efeitos múltiplos sobre as funções cognitivas.
Assim, quando essa comunicação é alterada, pode ocorrer uma gama de desordens, como as gastrointestinais funcionais e inflamatórias, obesidade e transtornos alimentares.
Consequentemente, evidências crescentes sugerem que os adoçantes artificiais distorcem os mecanismos dessa comunicação ao que se refere à saciedade, chamada de ‘recompensa alimentar’, atuando de uma forma diferente do açúcar.
Para exemplificar, a ressonância magnética em homens com peso normal mostrou em um estudo que a ingestão de açúcar resulta numa ativação desse sinal no hipotálamo, ou seja, uma diminuição do estímulo no centro da fome, porém, o mesmo padrão de resposta não foi observado com a ingestão do adoçante artificial sucralose. Essa divergência sugere que uma resposta cerebral de saciedade requer tanto sabor doce quanto conteúdo de energia.
Com isso, alguns estudos têm mostrado um aumento de apetite com o uso de alguns adoçantes artificiais, mostrando que a ingestão calórica total não seria alterada com o uso dos adoçantes.
Além de afetarem a comunicação entre o cérebro e o intestino, pesquisas recentes detectaram outro efeito maléfico e inesperado dos adoçantes artificiais: alteram a flora intestinal causando disbiose. Ou seja, provocam o desequilíbrio entre as bactérias benéficas e patogênicas presentes no intestino humano, sendo prejudicial à saúde.
Apesar de serem estudos preliminares, os seus resultados, publicados recentemente na renomada e respeitada revista Nature, apontam que “a utilização em massa desses aditivos alimentares deve ser reavaliada” e que “os adoçantes poderão ter contribuído indiretamente para aumentar a epidemia de obesidade que se destinavam a combater.
A possibilidade de que os adoçantes artificiais possam intensificar distúrbios metabólicos como o diabetes é um duro golpe aos que seguem recomendações de mudança de dieta substituindo o açúcar.
Em estudo realizado pelo departamento de Ciência dos Alimentos da Universidade de Copenhagen, na Dinamarca, examinaram-se as diferenças entre a flora intestinal, ou microbiota, de adultos diabéticos e não diabéticos.
Os resultados indicam que o diabetes tipo 2 em humanos está associado a mudanças de composição da microbiota intestinal e que o nível de tolerância à glicose deve ser considerado quanto à vinculação com doenças metabólicas, como a obesidade, buscando estratégias de controle dessas doenças através da modificação da microbiota intestinal.
Os adoçantes artificiais também podem facilitar algo que os psicólogos chamam de distorções cognitivas. Trocar um refrigerante comum por um dietético agora, significaria a permissão para uma fatia de bolo de chocolate depois.
Eles causam a percepção de que podemos ingerir mais alimentos do que realmente deveríamos. A psicologia é um fator, porém, a fisiologia também pode ser alterada.
A substituição do açúcar por adoçantes artificiais poderia não influenciar num positivo controle do apetite, pois, eventualmente, o adoçante artificial aspartame, por exemplo, pode promover a inibição do apetite, efeito que demonstra que nem todos os adoçantes apresentam efeitos de exacerbação, devido à liberação de um metabólito.
Mas, por outro lado, a ingestão do mesmo adoçante pode reduzir o prazer do sabor adocicado, o que aumenta o desejo por doces e carboidratos, intensificando o apetite e por consequência maior ingestão de energia e possível ganho de peso.
Um estudo publicado em 2008 pelo European Journal of Clinical Nutrition teve como objetivo investigar os efeitos celulares diretos e indiretos do aspartame sobre o cérebro. Nele, foi visto que o aspartame perturba o metabolismo dos aminoácidos, a estrutura proteica e seu metabolismo, a integridade dos ácidos nucleicos, função neuronal e alterações nas concentrações cerebrais de catecolaminas.
Também foi relatado que, entre outros, o aspartame e os seus produtos de degradação causam estresse nos nervos, o que provoca indiretamente uma alta taxa de despolarização neuronal.
Uma pesquisa conduzida pelo Dr. Soffritti em 2005, apresenta resultados do experimento de longo prazo sobre a carcinogenicidade (capacidade de estimular o aparecimento de carcinomas ou câncer) do aspartame.
Nela, os resultados demonstraram um aumento estatisticamente significativo de leucemias, linfomas e outros tipos de câncer em ratos. Portanto, o adoçante, administrado em níveis mais baixos que a dose diária aceitável (40mg/kg de peso corporal na União Europeia e 50mg/kg de peso corporal nos Estados Unidos), mostrou-se como agente carcinogênico capaz de induzir tumores malignos.
Em seu livro “Doença do aspartame: uma epidemia ignorada”, H. J. Roberts expõe informações de 1.200 casos de reações negativas ao adoçante relatados a ele. Segundo o livro de 1998, produtos com essa substância foram a causa de 80% das queixas ao Food and Drug Administration (FDA) sobre aditivos alimentares.
Dentre as reações relatavam estavam: dor de cabeça, tontura, mudança de humor, vômitos ou náuseas, dor abdominal e cólicas, alteração da visão, diarreia, convulsões, perda de memória e fadiga.
Em meados da década de 60, um estudo constatou que o ciclamato de sódio não era eliminado de forma invariável, mas poderia ser metabolizado como ciclohexalamina, substância considerada cancerígena.
Em 1969, a associação do ciclamato à sacarina foi interpretada pelo FDA como indutor de câncer de bexiga em ratos. A partir desses estudos, seu uso foi proibido nos Estados Unidos.
Apesar disso, em 1977, o comitê científico internacional de especialistas em aditivos alimentares (JECFA) aprovou o uso do ciclamato de sódio como adoçante em alimentos e bebidas em mais de 40 países, incluindo o Brasil.
Estudos publicados em meios renomados, associando o uso da sucralose na alteração da flora intestinal, efeitos cancerígenos e anormalidades neurológicas não cessam de aparecer periodicamente mostrando a amarga verdade de sua utilização ainda permitida em todo o mundo.
Por um lado, são muitos os trabalhos, passados e recentes, falando dos malefícios do açúcar e que devemos reduzir o seu consumo. Por outro, mais trabalhos nos alertam dos malefícios dos adoçantes artificiais.
Afinal, existe uma opção? Conforme a atual tendência mundial, voltar para mais perto da natureza e para o menos tóxico possível é o melhor caminho.
Veja algumas alternativas para adoçar os alimentos:
Os polióis (ou álcoois de açúcar) integram um grupo de carboidratos de digestão lenta, derivados da hidrogenação de fontes de açúcar naturalmente encontradas nas plantas. Sua utilização como substituto do açúcar e seus múltiplos benefícios tais como:
Veja os polióis mais conhecidos:
Sua extração provém de vegetais fibrosos, frutas e culturas de milho, esta última sendo, atualmente, a principal fonte de extração.
Em meados dos anos 1950, o pesquisador Touster e seus colaboradores concluíram que o xilitol é formado no corpo humano em cerca de 15g ao dia através do metabolismo normal da glicose.
Sendo bem tolerado pelo trato gastrointestinal, o xilitol pode ser usado na mesma proporção do açúcar e, em comparação, contém cerca de 40% calorias a menos.
No entanto, suas calorias são de baixa carga glicêmica, pois somente serão liberadas no corpo à medida que for digerido no fígado pela enzima xilitase hepática.
Entretanto, o xilitol é recomendado para pacientes com diabetes e com autismo, para o controle de peso. Isso porque ele ajuda a reduzir o esvaziamento gástrico, tem baixo índice glicêmico e, principalmente, devido ao seu metabolismo ser independente. Assim, mantém os níveis de insulina e de açúcar ideais.
Vale destacar que tal comportamento aumenta a saciedade e diminui a compulsão alimentar.
Outros benefícios incluem a redução do dano oxidativo nas células musculares e sanguíneas, recuperação pós-treino em razão de sua conversão constante em glicose (energia) e glicogênio (armazenamento) – motivo pelo qual seu uso entre as refeições funciona mantendo um fluxo constante de energia –, e ajuda na manutenção da flora intestinal.
O eritritol, encontrado naturalmente em frutas como peras, melões e uvas, bem como em alimentos como cogumelos e outros derivados de fermentação, como vinho, queijo e molho de soja.
Na sua forma, é um pó cristalino branco doce, sem sabor residual, semelhante à sacarose e aproximadamente 70% tão doce quanto.
O valor calórico do eritritol é 0,2Kcal/g (tão pouco que é considerado por muitos como zero de calorias) e a alta tolerância digestiva o distingue dos outros polióis.
Rapidamente absorvido no intestino delgado e eliminado sem alteração pelo organismo através dos rins, o eritritol é considerado isento de efeitos colaterais laxativos, muitas vezes associados ao consumo excessivo de polióis.
O maltitol é o membro da família dos polióis mais usado em função de sua notável semelhança à sacarose – cerca de 90% tão doce como o açúcar, com calorias significativamente reduzidas – exceto pelo fato de não apresentar boa caramelização.
Produzido pela hidrogenação da maltose, a qual é obtida a partir do amido, o maltitol é absorvido lentamente.
No intestino, sofre hidrólise e transforma-se em sorbitol e glicose antes da absorção. O valor calórico reduzido do maltitol (2,1kcal/g) é coerente com o seu uso com o objetivo de controlar o peso.
O sorbitol é um poliol encontrado em vários produtos alimentícios sendo cerca de 60% tão doce quanto a sacarose, mas com um terço a menos de calorias.
Foi descoberto por um químico francês nos frutos da tramazeira (Sorbus aucuparia L.), em 1872, mas ocorre naturalmente em muitos outros frutos e bagas.
Atualmente, é produzido comercialmente pela hidrogenação da glicose e está disponível nas formas líquida e em cristais, sendo também utilizado em produtos das indústrias farmacêuticas e de cosméticos.
Do ponto de vista farmacológico, o sorbitol estimula a motilidade da vesícula biliar, favorecendo o esvaziamento e a formação da bile. A bile atua na digestão de gorduras e na absorção de substâncias nutritivas da dieta ao passarem pelo intestino.
No entanto, pessoas com tendência a problemas no intestino, como diarreia, precisam ter cuidado.
Considerados seguros e há muito tempo consumidos, os adoçantes vegetais oferecem uma alternativa de fonte natural para substituir os adoçantes artificiais ou as várias formas de açúcar.
Confira algumas opções de adoçantes vegetais
A estévia tem uma longa história de uso seguro em alimentos e bebidas em todo o mundo. Extraída da Stevia Rebaudiana, planta originária da serra do Amambaí, na fronteira do Brasil com o Paraguai, foi descoberta em 1905 e industrializada a partir de 1970.
O Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives (JECFA) analisou a segurança dos glicosídeos de esteviol (provenientes da planta estévia) durante muitos anos, estabelecendo então como ingestão segura a dose de 12mg/kg de peso corporal/dia.
Diante dos dados de toxicidade disponíveis em diversos estudos in vitro e in vivo em animais e humanos, o painel concluiu que a estévia cumpre com as especificações do JECFA: não são cancerígenos, genotóxicos ou associados a qualquer toxicidade reprodutiva ou de desenvolvimento.
Contudo, em função de seu alto poder adoçante, cerca de 400 vezes maior que o açúcar, a quantidade usada, por exemplo, para adoçar um café é de, aproximadamente, 30 miligramas. Ainda, esta quantidade está bem longe do limite colocado pelo JECFA (o equivalente a 840mg diários de estévia de elevada pureza, considerando-se uma pessoa de 70kg).
A fruta Katemfe, originária do oeste africano, apresenta alto poder adoçante e realçador de sabor e aroma em alimentos e bebidas. Assim, foi descoberto que esta fruta contém uma proteína vegetal de cadeia longa que é a responsável pelo poder adoçante, a taumatina.
Desta forma, a tal proteína apresenta propriedades e benefícios singulares: é a substância mais doce da natureza – cerca de 2 mil vezes mais doce que o açúcar, além de ter a capacidade de mascarar sabores residuais amargos indesejáveis.
Diversos estudos científicos e toxicológicos atestaram que a taumatina não causa nenhum efeito prejudicial à saúde, podendo ser consumida por todos, inclusive diabéticos, fenilcetonúricos (doença genética rara caracterizada por defeito da enzima fenilalanina hidroxilase) e gestantes.
Assim, como é uma proteína, sua metabolização se dá de forma natural como qualquer proteína vegetal.
Por fim, a disponibilidade de uma variedade de adoçantes de fontes mais naturais possíveis é um benefício, já que dessa forma, o açúcar pode ser substituído em alimentos e bebidas com o intuito de diminuir o número de calorias e também os seus malefícios.
Contudo, as fontes naturais são alternativas para substituir tanto o açúcar quanto os adoçantes artificiais.
Assim, a escolha do tipo de adoçante que se quer introduzir na dieta deve considerar a origem e o que esta pode acarretar a longo prazo.
Prove, conheça e desfrute!
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