Associar a ansiedade crônica ao tipo de alimentação ou à falta dela tem sido cada vez mais comum, inclusive o uso de suplementos nutricionais com o objetivo de suprir a falta de nutrientes no indivíduo.
Do ponto de vista da evolução, a ansiedade tem suas origens na reação de defesa dos animais, que é a resposta aos perigos que eles encontram em seu ambiente. Nossos ancestrais mantinham-se em alerta diante do perigo de um ataque animal ou de morte por um inverno rigoroso, por exemplo. O estado de atenção ligava o sistema de reação do corpo, ou seja, surgia mais tensão, aumento da pressão arterial e mais sangue circulava. Dessa forma, o corpo ficava pronto para qualquer situação.
Esse esquema é gravado em nosso cérebro até hoje e diante de situações interpretadas como risco, entra em ação. No entanto, se essas circunstâncias reais ou fictícias tornam-se crônicas, deixa de ser uma reação natural causando prejuízos à saúde, à vida social, afetiva e profissional. Resultado: transforma-se em doença.
Normalmente quem sofre com essa patologia não consegue distinguir a real fonte de estresse. Associar a ansiedade crônica ao tipo de alimentação ou à falta dela tem sido cada vez mais comum, inclusive o uso de suplementos nutricionais com o objetivo de suprir a falta de nutrientes no indivíduo. Afinal, é possível controlar nossa ansiedade com os nutrientes adequados?
Um grupo de pesquisadores da Universidade de Deakin, Australia, analisou 935 mulheres entre 20 e 93 anos de idade, que responderam a 2 questionários: um que avaliou a dieta e outro que analisou a saúde mental. Itens como fontes de ômega 3 e 6 e quantidade de óleo de peixe ingeridas foram avaliados, juntamente com testes psicológicos para “medir” a ansiedade. O artigo foi publicado no British Journal of Nutrition em outubro de 2012.
Um dos fatores interessantes encontrado pela equipe foi que a ingestão de óleos vegetais era normal, porém o consumo de óleo de peixe era inadequado. Outro fator é que dentre os componentes destes óleos (EPA e DHA), o DHA foi relacionado à ansiedade, enquanto que o EPA+DHA juntos foram relacionados com melhora da depressão.
As mulheres que consumiam mais DHA (ácido docosahexaenoico) apresentaram menor ansiedade, comparadas ao grupo que consumia menos. Estas tiveram o consumo de DHA readequado após a avaliação, e as chances de apresentar ansiedade caíram 50%.
De acordo com os autores, é fácil entender essa relação: o DHA constitui de 25 a 35% dos lipídios nas membranas neurais do córtex cerebral e está envolvido no funcionamento da memória, no funcionamento da membrana do neurônio e sinalização neuronal. Os trabalhos envolvendo DHA e doenças neurodegenerativas mostram que este ácido graxo pode desempenhar funções benéficas, como ação anti-inflamatória e neuroprotetora. Há evidências da deficiência de DHA em pacientes com Alzheimer e Parkinson, por exemplo, porém ainda não está bem esclarecido o motivo desse declínio. Além disso, nossos genes podem determinar a capacidade do nosso corpo de formar DHA a partir de fontes vegetais ou animais. Esse fator pode, em parte, explicar a ocorrência de alterações psicológicas em várias gerações de uma família.
Corrigir a deficiência ou aumentar a concentração de DHA no cérebro é possível com a ingestão diária de cápsulas de óleo de peixe concentradas com ômega 3 ou somente DHA, por pelo menos 3 meses. Alimentos que são fonte de ômega 3 como salmão, linhaça ou sardinha, são boas opções para quem não adere ao tratamento com cápsulas. Porém, a ingestão deve ser diária a fim de alcançar os níveis adequados de DHA necessários à terapêutica da ansiedade crônica.
Referências:
Jacka, F.N., Pasco, J.A., Williams, L.J., Meyer, B.J., Digger, R., Berk, M. Dietary intake of fish and PUFA, and clinical depressive and anxiety disorders in women. Br J Nutr. 2012 Oct 10:1-8.
Appolinário, P.P., Derogis, P.B.M.C., Yamaguti, T.H., Miyamoto, S. Metabolismo, oxidação e implicações biológicas do ácido docosahexaenoico em doenças neurodegenerativas. Quim. Nova, Vol. 34, No. 8, 1409-1416, 2011.
Real Cures@Fevereiro_2013
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