Você sabe o que é a síndrome do olho seco? Neste texto, você vai entender quais são as principais características dessa condição, bem como seus sintomas mais comuns, fatores de risco e estratégias que ajudam no manejo do quadro e beneficiam a saúde ocular como um todo. Siga no texto e saiba tudo sobre a síndrome do olho seco.
O que é a síndrome do olho seco?
A síndrome do olho seco é uma condição multifatorial que afeta a lubrificação da superfície ocular, causada por alterações na quantidade ou qualidade das lágrimas. Quando os olhos não produzem lágrimas suficientes ou quando elas evaporam rapidamente, a superfície do olho fica ressecada, mais vulnerável a inflamações, lesões e desconforto.
A condição também é conhecida como ceratoconjuntivite seca, disfunção lacrimal ou simplesmente doença do olho seco. Estima-se que, em todo o mundo, entre 5% e 34% das pessoas sofrem de olho seco.
De forma prática, é classificada em dois tipos:
- Olho seco por baixa produção de lágrimas (hipossecretor): ocorre quando o olho não produz lágrimas suficientes. Representa cerca de 10% dos casos.
- Olho seco por evaporação excessiva (hiperevaporativo): é o tipo mais comum, e acontece quando as lágrimas evaporam rápido demais, geralmente devido a problemas nas glândulas de Meibômio, responsáveis pela camada oleosa da lágrima.
Quais os principais sintomas da síndrome do olho seco?
A síndrome do olho seco pode afetar significativamente o conforto e a qualidade de vida. Os sintomas variam de pessoa para pessoa, mas geralmente envolvem sinais de irritação e instabilidade na lubrificação ocular, como:
- Olhos lacrimejando e ardendo;
- Vermelhidão;
- Sensação de areia ou corpo estranho nos olhos;
- Coceira;
- Sensibilidade à luz (fotofobia);
- Visão embaçada;
- Desconforto;
- Dificuldade de movimentar as pálpebras;
- Maior produção de muco em casos mais graves.
O que causa a síndrome do olho seco?
Os olhos têm um sistema que envolve a superfície ocular, glândulas que produzem lágrimas, e nervos que controlam tudo isso. Quando algo nesse sistema não funciona bem, em decorrência de alguns fatores, o olho pode ficar seco e irritado. Entenda quais são os principais fatores de risco para a síndrome do olho seco:
Envelhecimento
Conforme envelhecemos, o olho passa por mudanças anatômicas, como a redução no tamanho ou da função das glândulas lacrimais e as alterações na pálpebra, músculos, pele e mucosas. Essas alterações podem impactar a saúde da superfície ocular.
Estudos mostram que a inflamação crônica de baixo grau e o aumento dos radicais livres, condições comuns no envelhecimento, têm um papel central nesse processo. A prevalência da disfunção lacrimal aumenta com a idade, sendo mais comum em mulheres. A disfunção da glândula de Meibômio é comum, mesmo com produção normal de lágrimas, o que afeta a estabilidade do filme lacrimal, que é a camada fina de lágrimas que cobre e protege a superfície dos olhos, mantendo-os lubrificados e livres de irritações.
Alterações hormonais
Os olhos são sensíveis às variações hormonais do corpo. Por isso, quando há desequilíbrios hormonais, é comum que a produção e a qualidade das lágrimas sejam afetadas, contribuindo para o surgimento ou agravamento da síndrome do olho seco.
Hormônios como estrogênio, progesterona e testosterona exercem influência direta sobre os olhos. A queda hormonal que acontece na menopausa está fortemente associada ao aumento dos sintomas do olho seco.
Além da menopausa, outras situações também podem estar relacionadas com a condição, como variações hormonais no ciclo menstrual, síndrome dos ovários policísticos, uso prolongado de anticoncepcionais ou tratamentos que reduzem os níveis de hormônios masculinos.
Diabetes mellitus
Estudos apontam que a diabetes mellitus aumenta o risco da síndrome do olho seco, pois, quando não tratada adequadamente, os níveis de açúcar no sangue ficam elevados, o que pode lesionar os vasos sanguíneos que irrigam os olhos e os nervos adjacentes. Com isso, pode afetar as células produtoras de muco na conjuntiva, reduzindo a produção de mucina, essencial para a saúde dos olhos.
Além disso, o excesso de açúcar também ativa uma enzima que gera sorbitol, tóxico para as células, prejudicando a glândula lacrimal e diminuindo a sua produção.
Deficiência de vitamina A
A vitamina A é essencial para a saúde dos olhos e sua deficiência pode levar a problemas como ressecamento ocular, cegueira noturna e até perda de visão.
Um estudo avaliou os efeitos da suplementação oral de vitamina A em pessoas com olho seco e observou melhora em alguns parâmetros do filme lacrimal, indicando que a vitamina A ajuda a manter a hidratação e a saúde da superfície dos olhos.
Uso excessivo de telas
Com o aumento do uso de telas digitais, como computadores, celulares e tablets, surgiram estudos associando o uso prolongado desses dispositivos ao aumento do risco de síndrome do olho seco.
Ao usar telas por um longo período, piscamos menos e de forma incompleta, o que prejudica a lubrificação ocular e acelera a evaporação da lágrima. O uso frequente desses dispositivos também pode piorar os sintomas em quem já tem a condição.
Fatores ambientais
Evidências apontam que o sistema de proteção formado pelas glândulas e pelo filme lacrimal pode ser prejudicado quando a exposição à poluição é intensa ou prolongada. Poeira fina, fuligem, pólen, mofo e até microrganismos presentes no ar podem favorecer a inflamação crônica e o estresse oxidativo, danificando as células responsáveis pela produção da lágrima.
Além disso, alguns gases poluentes e compostos químicos presentes em produtos de limpeza ou na fumaça de carros e indústrias também irritam a superfície ocular e prejudicam as glândulas que produzem a lágrima.
Ainda, condições como vento forte, clima seco, calor excessivo ou altitude elevada também aceleram a evaporação da lágrima, favorecendo o ressecamento.
Uso de alguns medicamentos
De acordo com a ciência, o uso contínuo de remédios como anti-histamínicos, aspirina, corticosteroides, entre outros, pode contribuir para a diminuição da lubrificação ocular.
Nesses casos, ao identificar algum sinal de olho seco durante o uso de medicamentos, é fundamental comunicar ao profissional de saúde para adotar estratégias em conjunto que minimizem os efeitos.
Tabagismo
Evidências indicam que o tabagismo prejudica a estabilidade do filme lacrimal, tornando os olhos mais secos e vulneráveis a danos.
Além disso, o estudo revelou que os fumantes apresentaram também redução da sensibilidade corneana e conjuntival, além de maior dano na superfície ocular, em comparação com não fumantes.
Desequilíbrios da microbiota intestinal
A microbiota intestinal ajuda no metabolismo e na regulação do corpo. Nesse sentido, estudos mostram que o desequilíbrio dessas bactérias intestinais, chamado disbiose, pode estar relacionado com a síndrome do olho seco. A hipótese é que esse desequilíbrio afete os olhos através de um “eixo” que conecta o intestino, a superfície ocular e as glândulas lacrimais.
Esse processo ocorre pois a inflamação causada pela disbiose também gera inflamação em outros locais do corpo, como os olhos e as glândulas lacrimais, reduzindo a produção de muco e lágrimas.
Qual a importância do diagnóstico e como é feito?
O diagnóstico da síndrome do olho seco é importante para diferenciá-la de outras intercorrências, como infecções e alergias, que apresentam sintomas semelhantes, mas exigem tratamentos diferentes.
Os testes diagnósticos ajudam a classificar o paciente como tendo olho seco do tipo hipossecretor (baixa produção de lágrimas) ou hiperevaporativo (evaporação excessiva), o que orienta o tratamento.
Testes para o diagnóstico
Para saber o tipo de olho seco e indicar o melhor tratamento, os médicos usam alguns testes simples. Veja quais são:
- Identificação dos sintomas;
- Verificação do tempo que o olho consegue manter a lágrima sem secar;
- Identificação de possíveis lesões na superfície ocular;
- Teste de produção de lágrima;
- Avaliação das pálpebras e das glândulas que produzem a parte oleosa da lágrima.
É importante, ainda, investigar fatores como ambiente de trabalho (ex: exposição excessiva ao ar-condicionado, à poeira, etc.), doenças sistêmicas e medicamentos em uso.
O diagnóstico precoce e a adesão ao tratamento adequado ajudam a prevenir possíveis complicações que a síndrome do olho seco pode causar, como úlceras, perfuração da córnea ou a perda da visão funcional.
Como é o tratamento para a síndrome do olho seco?
O tratamento deve ser personalizado, de acordo com a gravidade da doença, os sintomas e as necessidades de cada pessoa. Dentre as estratégias que geralmente são adotadas, podemos citar:
- Adaptações no ambiente: evitar o ar seco, vento direto no rosto e o uso prolongado de telas;
- Colírios lubrificantes: são os tratamentos mais comuns. Ajudam no conforto, estabilizam a lágrima e melhoram a qualidade de vida;
- Colírios anti-inflamatórios: indicados em casos de inflamação;
- Higiene das pálpebras: essencial em casos de disfunção das glândulas de Meibômio. Quando estão entupidas ou inflamadas, a lágrima evapora mais rápido. O tratamento inclui compressas mornas, massagens, limpeza com produtos específicos, uso de máscaras térmicas ou aparelhos que aquecem e massageiam a região para liberar a secreção acumulada;
- Plugues lacrimais: pequenos dispositivos colocados nos canais lacrimais para evitar a drenagem da lágrima, mantendo o olho úmido. Úteis em casos de baixa produção lacrimal;
- Lentes especiais: casos mais graves podem exigir lentes especiais (como lentes esclerais ou de curativo) para proteger o olho.
Ativos que podem auxiliar no tratamento, de acordo com estudos
Diversos ativos têm sido estudados pelos potenciais que apresentam para aliviar os sintomas da síndrome do olho seco. A seguir, você conhece os principais e como eles atuam na saúde ocular.
Ácido hialurônico
O ácido hialurônico é uma substância natural presente no corpo humano, encontrada em tecidos como a córnea, o humor vítreo e a camada das lágrimas.
As pesquisas destacam que essa substância é um ingrediente muito usado no tratamento da síndrome do olho seco, especialmente em formulações de lágrimas artificiais e colírios, pois ajuda a reter a água e lubrificar os olhos, reduzindo o atrito na superfície ocular.
Além disso, apresenta propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes que podem proteger os olhos.
Ácido hialurônico e coenzima Q10
A combinação de ácido hialurônico com coenzima Q10 pode potencializar o tratamento da síndrome do olho seco. Em um estudo, foi comparado o uso de um colírio contendo apenas ácido hialurônico com outro com ácido hialurônico associado à CoQ10.
O colírio com ácido hialurônico e CoQ10 proporcionou maior alívio dos sintomas, melhorou a saúde da córnea e favoreceu o funcionamento das glândulas lacrimais.
Esse efeito superior se deve, provavelmente, à maior permanência do produto nos olhos e à ação antioxidante da coenzima Q10, que ajuda a proteger a superfície ocular contra danos.
Ácido alfa-lipoico (ALA)
Um estudo avaliou a eficácia de colírios de HPMC, um lubrificante ocular comum, isoladamente ou combinado com ácido alfa-lipoico (ALA), um antioxidante, em pacientes com diabetes mellitus 2 e sintomas de olho seco.
Ambos melhoraram os sintomas de olho seco e a qualidade do filme lacrimal, mas apenas a combinação com ALA mostrou melhora significativa da coloração da córnea, um indicativo de recuperação das lesões nessa estrutura. Isso sugere que o ALA potencializa os efeitos do HPMC e pode favorecer a regeneração da superfície ocular em pessoas com diabetes.
Melatonina
A melatonina, hormônio natural responsável pela indução do sono, também está presente em nossos olhos e parece ter efeitos no tratamento da síndrome do olho seco. Um estudo mostrou que esse hormônio protege as células oculares contra inflamações e estresse oxidativo.
Os pesquisadores observaram que a melatonina ajudou a reduzir o excesso de radicais livres, proteger as mitocôndrias (que geram energia nas células), diminuir a morte celular, melhorar o processo natural de “limpeza” das células (autofagia) e reduzir a inflamação.
Em animais, esse hormônio aumentou a produção de lágrimas, melhorou a saúde da córnea e elevou a quantidade de células protetoras na superfície dos olhos.
Vitaminas e minerais
As vitaminas têm se mostrado importantes aliadas no tratamento da síndrome do olho seco, especialmente por sua ação antioxidante e regeneradora. Estudos clínicos indicam que a suplementação oral com vitaminas A, C, E, astaxantina, antocianinas e extratos vegetais, pode melhorar a produção e a estabilidade do filme lacrimal, além de reduzir o nível de radicais livres.
Outra pesquisa demonstrou que o uso de multivitaminas orais também pode ser eficaz em casos mais resistentes ao tratamento com colírios, promovendo alívio dos sintomas e aumento da estabilidade lacrimal.
Vitamina D
Pesquisadores estudam a vitamina D como uma possível aliada no tratamento do olho seco, pois ela atua na regulação do sistema imunológico e no controle da inflamação. Por isso, há teorias de que níveis adequados poderiam beneficiar especialmente os casos que não respondem bem aos tratamentos convencionais.
Uma análise de estudos sobre o papel da vitamina D na causa e no tratamento da condição reforça essa ideia, pois níveis suficientes do nutriente estão associados a menor quantidade e gravidade de sintomas do olho seco, e sua deficiência poderia ser um fator de risco para o desenvolvimento da doença.
Ácidos graxos
Um estudo clínico mostrou que a suplementação oral com dois tipos de ácidos graxos ômega-6 (ácido linoleico e ácido gama-linolênico) em pessoas com olho seco ajudou a diminuir a inflamação, os danos à superfície ocular e os sintomas como ardência e sensação de areia nos olhos.
Probióticos e prebióticos
Evidências mostram que a microbiota intestinal pode ter um papel importante na regulação da inflamação crônica, inclusive nos olhos.
Por isso, probióticos e prebióticos, conhecidos por equilibrar a flora intestinal, vêm sendo investigados como uma possível ajuda no tratamento do olho seco. Em um estudo, as pessoas com olho seco que receberam suplementos com probióticos e prebióticos tiveram uma melhora significativa dos sintomas.
Hábitos que ajudam na prevenção da síndrome do olho seco
Algumas atitudes simples no dia a dia podem ajudar a manter os olhos saudáveis e evitar o ressecamento ocular:
- Reduza o tempo de tela: faça pausas regulares, use a regra 20-20-20 (a cada 20 minutos, olhe por 20 segundos para algo a 20 pés de distância – cerca de 6 metros);
- Proteja os olhos do sol: use óculos escuros, bonés ou chapéus para evitar a exposição direta à luz solar e ao vento;
- Mantenha a higiene ocular: lave as pálpebras com produtos adequados e remova bem a maquiagem;
- Evite ambientes secos: use umidificadores de ar em regiões de clima seco e evite ficar por longos períodos em ambientes com ar-condicionado ou aquecedores;
- Consulte o oftalmologista regularmente: o acompanhamento profissional ajuda a identificar e tratar precocemente qualquer alteração.
Cuidar da saúde ocular vai muito além de enxergar bem, é essencial para prevenir desconfortos e doenças como a síndrome do olho seco. Manter os olhos saudáveis ajuda a evitar inflamações, lesões e até problemas mais sérios com o passar do tempo.
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